Sobretaxas dos EUA provocam queda de 18,5% nas exportações brasileiras
Monitor da Câmara Americana de Comércio para o Brasil mostra desaceleração em agosto nas trocas bilaterais
As exportações brasileiras para os Estados Unidos registraram em agosto a maior queda mensal do ano, um recuo de 18,5% em relação a 2024, segundo o Monitor do Comércio Brasil-EUA, elaborado pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham). A retração está diretamente ligada ao chamado tarifaço do governo Donald Trump, que desde 6 de agosto aplica sobretaxas de até 50% sobre cerca de um terço das exportações brasileiras para o mercado norte-americano.
De acordo com o levantamento da Amcham, os produtos atingidos pelas novas tarifas caíram 22,4% no mês. Apesar da perda no mercado norte-americano, o acumulado de janeiro a agosto ainda mostra crescimento de 1,6% nas exportações brasileiras para os EUA, totalizando US$ 26,6 bilhões, valor recorde para o período. As importações, por sua vez, somaram US$ 30 bilhões, avanço de 11,4% em relação a 2024. Após altas superiores a 18% em junho e julho, cresceram apenas 4,6% em agosto.
Entre os setores mais afetados pelas tarifas estão óleos combustíveis de petróleo (-37%), celulose (-22,7%) e semiacabados de ferro e aço (-23,4%). Já segmentos como carne bovina (+93,4%), café (+33,0%) e aeronaves (+11,2%) se destacaram no acumulado do ano, mostrando resiliência mesmo diante do novo cenário, segundo o relatório da Amcham.
Em entrevista ao programa Voz do Brasil, da Rádio Gov, a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Tatiana Prazeres, destacou a capacidade de reação da economia brasileira. “Houve uma queda de 18,5% das nossas vendas para os Estados Unidos, mas isso foi mais do que compensado com o crescimento de exportações para a China, aumento de 30%, Argentina, aumento de 40%, México, aumento de 43%. Ou seja, as exportações brasileiras mostraram-se muito resilientes, conseguindo alcançar outros mercados e manter saldo positivo na balança comercial”, afirmou.
O relatório da Amcham ressalta ainda o efeito indireto das tarifas sobre as cadeias produtivas brasileiras. Produtos importados dos EUA e utilizados pela indústria nacional, como carvão mineral e peças de aeronaves, registraram desaceleração no ritmo de crescimento das compras. “A forte desaceleração no ritmo das importações brasileiras vindas dos EUA sinaliza um efeito indireto das tarifas, reflexo do alto grau de integração e de comércio intrafirma entre as duas maiores economias das Américas”, avaliou Abrão Neto, presidente da Amcham.
Outro ponto de destaque é o superávit norte-americano com o Brasil, que alcançou US$ 3,4 bilhões entre janeiro e agosto, alta de 355% em relação ao mesmo período de 2024. Enquanto os Estados Unidos acumulam déficit de mais de US$ 800 bilhões no comércio global, o Brasil aparece entre os poucos parceiros com saldo positivo para Washington.
Segundo a secretária do Mdic, o governo brasileiro tem trabalhado para reduzir os efeitos do tarifaço, negociando paralelamente a ampliação de acordos comerciais. “Várias negociações se intensificam à luz dessas dificuldades de acesso ao mercado americano”, disse Tatiana, citando o avanço de tratativas como Mercosul-União Europeia, Mercosul-EFTA e a parceria com o México. “Nosso empenho é ampliar oportunidades e diversificar destinos, garantindo espaço para os produtos brasileiros no comércio internacional”, concluiu.
Site Benews – 12/09/2025