Carga geral é aposta de transportadores ferroviários para os próximos anos
Transporte desse segmento por trilhos teve expansão de 52,67% nos últimos 26 anos. Em 2022, mais de 93% do minério de ferro, quase 50% da soja e 50% do milho e do açúcar exportados pelo país chegaram aos portos brasileiros por ferrovias
A carga geral ganhou destaque nas ferrovias brasileiras em 2022, registrando um aumento de 11,7%, quando comparada ao ano anterior, equivalente a 122,5 milhões de TKU. De acordo com o relatório publicado no final de fevereiro pela Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), o minério de ferro segue tendo o maior peso com 67% do volume, mesmo com a redução de 5% em relação a 2021. No relatório estão incluídas as operações da Ferrovia Tereza Cristina, MRS Logística, Rumo, Transnordestina Logística, VLI e Vale.
Nos últimos 26 anos, o transporte de carga geral teve expansão de 52,67%. Para Fernando Paes, diretor-executivo da associação, o avanço da carga geral será uma tendência de longo prazo, projetando a diversificação com grãos e celulose. "Isso não é pouco! Os números revelam um avanço importante, bastante consistente, de produtos como celulose, combustíveis, açúcar e milho, entre outros. Boa parte dessas cargas é transportada por contêineres, segmento que apresentou um aumento de 4,4% na comparação entre 2022 e 2021", destacou Paes à Portos e Navios.
A movimentação de milho atingiu 26,7 bilhões de TKU, uma alta de 69%. Já no transporte de soja e farelo, houve aumento de 3%, para 46,3 bilhões de TKU. Em celulose, apareceu um crescimento de 26%, alcançando 5,5 bilhões de TKU. Em dezembro, foram transportados 4,3 milhões de TKU de contêineres, enquanto em 2021 o número era de 4,1 milhões de TKU, registrando um aumento de 4%.
Para o engenheiro Raimundo Júnior da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias SA, a movimentação de contêineres irá destravar a visão histórica de ferrovias apenas para exportação de commodities, com ferrovias e projetos mais modernos com trens leves e mais rápidos. "Em nossos estudos e na nossa vivência, a carga geral será, em médio e longo prazo, o grande potencial para recolocar o setor ferroviário em um patamar diferenciado", completou.
Desde 2006, a expansão do uso de contêineres tem crescido a uma taxa média de 6,6% com cargas, muitas vezes, com foco no consumo doméstico, como alimentos. Para Paes, da ANTF, as commodities agrícolas e minerais, voltadas para a exportação, se manterão como carros-chefes devido à "excelência internacional das associadas no transporte desses produtos". "Isso é resultado do esforço contínuo das concessionárias em diversificar os tipos de cargas, de ampliar tanto os volumes contratados quanto o número de clientes. Houve casos de ferrovias que, entre 2021 e 2022, viram a sua carteira de clientes simplesmente triplicar", salientou.
Segundo o relatório da ANTF, no balanço geral de 2022, o volume transportado por ferrovias permaneceu estável, com queda de 0,1% comparado a 2021. Além disso, no ano passado, mais de 93% do minério de ferro, quase 50% da soja e cerca de 50% do milho e do açúcar exportados pelo país chegaram aos portos brasileiros por meio de ferrovias.
Para Paes, o balanço de 2022 comprovou mais uma vez a resiliência do setor ferroviário de cargas. Foi um ano pontuado por adversidades climáticas, que impactaram alguns fluxos, além da retração do transporte de minério de ferro, associada à queda também do preço do produto no mercado internacional. Mesmo assim, as ferrovias mantiveram a produção em TKU praticamente estável: 371,1 bilhões no ano passado contra 371,4 bilhões, em 2021, o que representa uma redução de 0,4% no volume total transportado pelas associadas à ANTF.
"Apesar do evidente potencial de crescimento da carga geral, por ora, neste primeiro trimestre do ano, não é possível apontar qual será o viés do setor para 2023 — já que os primeiros meses tradicionalmente trazem dados de redução de volumes devido à sazonalidade de safras e de uma certa cautela em relação a demandas globais, entre outros fatores. A economia do país, se maior ou menor, e a de países compradores, como China e Estados Unidos, é que definirão essa tendência um pouco mais à frente", destacou o diretor-executivo da associação.
Site: Portos e Navios – 10/03/2023
