2023-02-14
Destaque em 2022, navegação interior mantém expectativas altas.

Um dos principais projetos prevê implantação da hidrovia Brasil-Uruguai, que vem sendo discutida pelos governos dos dois países. Para especialistas, momento é ideal para investir no segmento, a fim de reduzir custos logísticos e melhorar eficiência operacional

Durante as agendas oficiais na América do Sul, no final de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), debateu com presidentes dos países vizinhos sobre a implantação da hidrovia Brasil-Uruguai. Para especialistas, este é o momento ideal para investir no transporte hidroviário, buscando reduzir custos logísticos e melhorar a eficiência operacional. No início de fevereiro, o Ministério de Portos e Aeroportos recebeu duas propostas de consultorias interessadas em refazer os projetos. A avaliação, no entanto, é que ainda é cedo para expectativas de curto prazo.

"As propostas serão analisadas e podem ser contratadas pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). O estágio ainda é inicial e, depois de finalizados os projetos técnicos, ainda podem acontecer outras etapas de licitação, licenciamento e obras de dragagem para a retirada de sedimentos do fundo d'água e liberação dos canais de navegação", informou o ministério.

Com extensão total de 220 quilômetros, o projeto prevê a saída da hidrovia do porto do Rio Tacuarí, no Uruguai, próxima da cidade de Rio Branco, que faz fronteira com Jaguarão, no Rio Grande do Sul. O curso, conforme o escopo, seguiria pela Lagoa Mirim, entrando em águas brasileiras e acessaria o Canal São Gonçalo, que liga as lagoas Mirim e dos Patos, chegando ao Porto de Rio Grande.

Segundo ​​Guillermo Valles, embaixador do Uruguai no Brasil, o trecho de 22 quilômetros do Canal São Gonçalo, já foi identificado, em avaliações preliminares, como o ponto crítico que demandaria dragagem. "O custo é mínimo e seria uma pequena intervenção que teria um enorme impacto econômico e social em regiões deprimidas, com pouco desenvolvimento. Uma barcaça pode levar o equivalente a 90 caminhões de mercadorias", disse.

Pierre Jacquin, vice-presidente da project44, plataforma de visibilidade da cadeia de suprimentos, acredita que as hidrovias podem contribuir significativamente para o avanço das operações multimodais, na medida em que podem reduzir os custos logísticos no Brasil, que representam 12,5% do PIB, contra 10% do PIB europeu e 8% do americano. “Poucos países têm um potencial hidroviário tão grande quanto o Brasil. No entanto, o transporte de cargas por navegação interior ainda desempenha um papel pequeno no cenário logístico nacional”, comentou.

Em 2022, a navegação interior cresceu 11,2%, comparado ao mesmo período de 2021. O maior aumento na movimentação de cargas em hidrovias ocorreu na quantidade de granéis sólidos movimentados (+15,36%), seguido de líquidos e gasosos (+14,1%). Além da carga conteinerizada que teve um aumento de 3,64%.

De acordo com o Anuário Estatístico Portuário 2022, da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), somente entre outubro e novembro de 2022, as regiões da Amazônia e o trecho Tocantins-Araguaia registraram aumentos de 30% e de 25,3%, respectivamente, nos volumes movimentados. Elas representam 75% do transporte hidroviário interior de cargas.

Além da hidrovia Brasil-Uruguai, há outros projetos em fase de desenvolvimento. No início do ano, a Secretaria de Logística e Transportes do Rio Grande do Sul confirmou obras de dragagem e a ampliação de hidrovias no estado ainda no primeiro semestre. Já em São Paulo há um projeto que pretende, até 2024, testar barcos elétricos para transporte de pessoas, veículos e cargas na represa Billings, com potencial para reduzir o tempo em uma hora de deslocamento. O estado ainda pretende investir em sete hidrovias que ligariam municípios da região.

“A expectativa é de avanço de políticas públicas de incentivo às hidrovias. É um modal de excelente custo-benefício, capaz de oferecer ganhos do ponto de vista ambiental e assumir um papel ainda mais estratégico na movimentação de grãos, fertilizantes, minérios, celulose e até contêineres para portos menores”, comentou Jacquin.

De acordo com a Antaq, o transporte de produtos brasileiros por via hidroviária movimentou cerca de 1,2 bilhão de toneladas em 2022. A navegação de longo curso foi responsável pela movimentação de 849, 6 milhões de toneladas, enquanto a cabotagem e navegação interior compuseram as demais operações de logística aquaviária movimentando 283,3 milhões de toneladas e 73,1 milhões de toneladas, respectivamente.

Site: Portos e Navios – 14/02/2023


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