2023-02-07
Portos brasileiros precisam investir em prevenção contra crise climática, aponta especialista.

Segundo relatório da ANTAQ, 7 dos 21 portos apresentam risco alto ou muito alto para mudanças climáticas

O Brasil tem sofrido com tempestades e rajadas de vento que aparecem de surpresa. Na última sexta-feira, (3), a embarcação da MSC Cruzeiros se desprendeu do Píer Mauá, no Rio de Janeiro, após um cabeço de amarração ter sido arrancado do cais. Para especialista, o incidente tem evidenciado a necessidade de portos brasileiros investirem em tecnologias que podem evitar tragédias e prejuízos operacionais.

Mas não só o Rio de Janeiro tem sofrido com mudanças repentinas no tempo. Aratu-Candeias, na Bahia, Santos, em São Paulo e Rio Grande, no Rio Grande do Sul, aparecem como os portos brasileiros que mais tem sentido efeitos da crise climática e apresentam riscos e vulnerabilidades, segundo um estudo coordenado pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ).

De acordo com o relatório, os vendavais são os fenômenos climáticos que trazem riscos mais críticos para o conjunto de estruturas avaliadas. Sete dos 21 portos apresentam risco alto ou muito alto para esses eventos, sendo o nordeste a região com a maior concentração de portos com risco alto ou muito alto nessa categoria. "Se nada for feito nos próximos anos, esse grau de risco pode atingir 16 portos até 2050, ou seja, os sete atuais e outros nove", destacou os pesquisadores.

Para o diretor técnico da Bowline e representante da BollardScan no Brasil, o engenheiro Francisco Gaudêncio, todos os portos têm como obrigação prover um ambiente seguro para o usuário do terminal e isso implica em investir em tecnologia e no monitoramento do entorno portuário. "A partir do momento que você tem na sua tela todo monitoramento portuário do que está no fundeio, do que está em trânsito ou atracado, por exemplo, você sabe quais ações emergenciais podem ser feitas. Quando você está dentro de uma caixa preta, sem nenhum tipo de informação, a tomada de decisão fica comprometida", comentou.

Segundo Gaudêncio, pelas imagens, é possível constatar que no navio da MSC Cruzeiros houve o arrancamento do cabeço, juntamente com os chumbadores, danificando inteiramente esta posição do cabeço no costado do porto fluminense. O engenheiro afirma que é necessário que os portos busquem certificações e validações da carga nominal de cada cabeço, para que eventos assim não virem rotineiros. "O sistema de amarração com um todo é o ponto onde tem mais riscos a vida humana, independente se seja rompimento de um cabo ou a retirada do cabeço, esse é o ambiente onde todos estão mais expostos aos riscos", disse.

Atualmente, os portos brasileiros têm cerca de 6,5 mil cabeços de amarração. Em Santos, há uma ampla variedade de tamanhos, tipos e capacidades, alguns da década de 1930 que foram fabricados pela extinta Companhia Docas de Santos (CDS) e os mais antigos ainda estão em operação em alguns terminais do cais público.

Para o engenheiro há complexos portuários do Brasil que não têm um real mapeamento de suas características, como a capacidade nominal certificada e para evitar acidentes são necessárias manutenções preventivas, incluindo em os chumbadores e o concreto no entorno.

De acordo com Gaudêncio, no Brasil, a Bowline é a única empresa que realiza testes de integridade por meio de sensores. A tecnologia impede danos aos cabeços porque não são aplicadas cargas reais e, sim, um sistema de vibração. "Com nosso sistema os cabeços recebem impacto, através de um sensor calibrado que avalia todo corpo do cabeço, seus chumbadores e o entorno onde está instalado. Nós analisamos todo sistema, sem nenhuma chance daquilo ser deslocado por uma carga real", comentou.

Após a simulações de carga, as estruturas avaliadas pela companhia recebem uma certificação internacional da Lloyds Register, com validade de três anos, além de um seguro. “Nunca foi necessário utilizar esse seguro, mas se algo acontecer, a empresa fornecerá um novo cabeço, sua instalação e um novo teste, desde que sejam seguidas as indicações do relatório fornecido”.

Site: Portos e Navios – 07/02/2023


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