2023-01-03
Após dois anos turbulentos, 2022 fecha com fretes baixos por contêineres

Para especialistas a queda foi provocada principalmente pela guerra na Ucrânia

Em 2022 o mercado de fretes em navios porta-contêineres voltou praticamente ao nível pré-pandêmico. No auge da pandemia de 2020, no trajeto de importação da Ásia para o Brasil, o valor chegou aos US$ 15 mil por contêiner de 40 pés, enquanto em dezembro deste ano ficou em torno de US$ 1,3 mil/TEU. Segundo Andrew Lorimer, CEO da Datamar, a queda no frete foi provocada principalmente pela guerra na Ucrânia, que gerou falta de energia e gás russo na Europa.

"Com o inverno, chegou a terrível inflação e com ela as pessoas ficaram sem dinheiro. Isso significa que não tem mais demanda, então os navios ficam bem mais vazios, fazendo com que o frete finalmente desabe", explica.

Para Lorimer, apesar de o mundo ocidental ter se acostumado com a pandemia, na China ainda há a tolerância zero, o que deixa o mercado sempre em alerta. "Em maio, os portos chineses foram fechados por causa da Covid e quando isso aconteceu o frete se manteve altíssimo", diz.

De acordo com o sócio fundador da Kestraa, Marcelo Mattos, as cargas de baixo valor agregado são os que mais sofrem. "Como têm produtos sensíveis a preço e têm um impacto maior na conta final, eles acabam sendo os mais afetados. O varejo é muito impactado, mas não por causa do frete em específico, e sim devido à forma de comércio”, afirmou.

Segundo Lorimer, dificilmente o frete voltará a subir tão cedo, principalmente por dois fatores: a oferta e a demanda de navios. "Antes da pandemia não tinha navio, novas embarcações foram encomendadas e elas estão chegando ano. Então você tem a combinação de a demanda cair, por conta da guerra, e da oferta aumentar porque o pessoal pediu navios novos. Ou o preço vai baixar mais ou vai permanecer do jeito que está", enfatizou.

Como alternativa para manter os preços sustentáveis, os armadores têm optado por colocar os navios para andarem mais devagar, focando na economia do combustível, apelando para blank sailing (cancelamento de viagens) e principalmente pelo sucateamento dos navios que estão mais velhos. Em seu último relatório semanal, a corretora de navios Clarkson Platou Hellas avaliou que o mercado de reciclagem de navios pode retornar com força em 2023.

O CEO da Datamar vê 2023 como um ano bem para baixo e estagnado. "Os últimos anos foram estagnados mesmo, a pandemia deu uma queda, depois e, 2021 nós recuperamos, 2022 foi bem e indo para a estagnação e em 2023, na nossa visão, seguirá esse caminho", declarou.

Para o diretor-executivo do Centro de Navegação Transatlântica (Centronave), Claudio Loureiro, a economia global vive um ciclo de transição e existe um futuro cheio de oportunidades de crescimento para as exportações brasileiras. Mas para isso, o Brasil precisa implementar uma série de mudanças, investir em infraestrutura, acabar com burocracias e rever o excesso de regulação do mercado

"Atualmente, no Brasil, operamos um navio de 10 mil TEUs. Queremos ter um de 14 mil TEUs, ter esse ganho de 40% de produtividade, sem aumentar número de escalas. Contudo, o navio não entra nos portos brasileiros com facilidade, ou seja, temos que resolver essa incapacidade nossa de receber navios maiores para não perder a oportunidade", comentou.

Site Portos e Navios – 03/01/2023


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