2022-12-27
Mercado internacional sofre com escassez de sucata naval, afirma consultor

No Brasil, o mercado ainda é considerado iniciante

Nos últimos dois anos, o mercado internacional tem sofrido com uma grande escassez de sucata naval em função dos elevados fretes. De acordo com Newton Pereira, professor de engenharia industrial metalúrgica na Universidade Federal Fluminense (UFF), neste momento há poucos navios para reciclagem, o que fez com os valores no Sul Ásia superassem os US$ 600/LDT.

O preço da sucata no mercado internacional é variável, pois é tratado como uma commodity. O mercado de reciclagem é operado basicamente no sul da Ásia, com preços cotados em função dos tipos de navios. O mercado da Turquia é o que paga o menor valor por tonelada de deslocamento leve (LDT) ao armador, pois é considerado como "green recycling", reciclagem verde pelo método empregado de carreira, diferente do método beaching que ocorre nas praias.

A reciclagem de navios é definida como uma atividade de recuperação dos materiais e equipamentos empregados na construção naval para reutilização. A taxa de reutilização destes materiais na cadeia logística reversa chega em média a 95%. Existe um mercado bilionário da reciclagem de navios, pois cerca de 800 embarcações por ano são enviadas para reciclagem.

Estima-se que é possível aproveitar para a reciclagem entre 80%-90% de todos os materiais extraídos das embarcações no processo de desmantelamento (em especial aço, ferro, outros equipamentos), reduzindo assim os impactos ambientais da produção de novas partes e peças.

No Brasil, o mercado ainda é iniciante. Pereira acredita que o país tem potencial de se tornar um mercado interessante, pois ele possui grandes estaleiros e atende às melhores práticas de gestão ambiental e trabalhistas.

Em 2009, a Convenção Internacional para a Reciclagem Segura e Ambientalmente Adequada de Navios (HKC), adotada pela Organização Marítima Internacional (IMO), introduziu conceitos de boas práticas para a atividade de reciclagem. Contudo, não proibiu o método de reciclagem nas praias, diferentemente do Regulamento Europeu 1257/2013 que buscou mitigar que essa prática aconteça, com uma lista de estaleiros credenciados pela comunidade européia para realizar a reciclagem segura.

"Isso abre a oportunidade de estaleiros brasileiros atenderem este mercado internacional, uma vez que podem se credenciar, além de um mercado local e regional que pode ser criado no país", destaca.

Para o professor, o Brasil ainda tem um grande potencial na quantidade de aço que pode ser reciclável. Principalmente em função das plataformas que poderão ser descomissionadas e precisarão ser recicladas. "Existem ainda os navios mercantes de bandeira brasileira, que não são muitos, mas já podem propiciar a atividade. Isso também envolve embarcações fluviais que no final da vida útil precisam ser recicladas, sendo este um mercado potencial", comenta.

Em novembro de 2022, a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que regulamenta a reciclagem de embarcações no país, estabelecendo diretrizes para a gestão e o gerenciamento da atividade. Para o relator, o deputado General Girão (PL-RN), o projeto é necessário para evitar que o litoral brasileiro vire um grande depósito de navios abandonados.

O deputado acrescenta como alternativa, o aproveitamento das carcaças e a transformação em recifes artificiais, para atrair vida marinha. “A indústria da reciclagem, tende a criar uma cadeia de serviços específica, principalmente para o setor siderúrgico”, completou.

O projeto tramita em caráter conclusivo e será ainda analisado agora pelas comissões de Viação e Transportes e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Site Portos e Navios – 27/12/2022


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