Amazonas ainda carece de mão de obra especializada
Para especialistas, apesar de ter maior quantidade de estaleiros de manutenção e reparos do país, estado conta somente com curso de Engenharia Naval como formação profissional
Com 1.564.445 km², o Amazonas é conhecido por ser o estado com maior área territorial no Brasil. A região arrecadou, em 2021, quase R$ 17 bilhões e se tornou um dos 8 estados que mais consolidam os tributos federais. Além disso, ele ainda é conhecido por ter o maior número de estaleiros de manutenção e reparos, com aproximadamente 400 estaleiros, carreiras e oficinas navais. Entretanto, especialistas destacam a dificuldade em conseguir mão-de-obra especializada.
O Amazonas possui como formação profissional somente o curso de Engenharia Naval. Mateus Araújo, presidente dos construtores navais de Airão-AM, acredita que o estado é muito carente na área técnica e afirma que há a necessidade de qualificação naval em todos os níveis. Tanto na área de profissionais que atuam diretamente na construção e gestão naval, quanto na área de operação das embarcações, especificamente para os tripulantes.
"Precisamos de engenheiros de qualidade, soldadores nível 01 e 02, técnico em pintura, eletricista naval, e de painéis de comando, delineador, instalador de tubulação, e tantos outros que sobram no parque industrial naval do Rio de Janeiro. Entretanto, mesmo com essa deficiência, ainda fabricamos embarcações de grande porte com reconhecida qualidade de uso", comentou Araújo à Portos e Navios.
Nas redes sociais, há relatos de soldadores que aprendem a sua função no convívio com os colegas de trabalho, trazendo retrabalhos, sem se preocupar com desperdício ou ficar atentos ao perigo na condução dos equipamentos. Eles, muitas vezes, se atualizam e coletam informações lendo catálogos, publicações especializadas e notícias de outras mídias.
Para atender o Arco Norte, que viabiliza o escoamento de grãos pelo Norte do Brasil, atualmente, as principais demandas por serviços à indústria naval no estado são a construção naval em aço de balsas de carga geral, balsa graneleira, balsa tanque, embarcação de transporte de passageiros e carga (ferry boat), rebocadores portuários, entre outros. Além disso, destaca-se a construção de embarcações em alumínio como as lanchas para transporte de passageiros.
Segundo o professor tecnólogo fluvial, Alex Monteiro, dependendo da categoria do tripulante, não se consegue a habilitação necessária no Amazonas. Nestes casos, o piloto precisa ir para fora do estado. "Geralmente vão para Belém (PA) ou para o Rio de Janeiro e moram por meses para conseguir a qualificação necessária para atender seus clientes", lamentou.
Monteiro acredita que a necessidade de cursos de formação específicos vem desde sempre, pois hoje em dia tem-se apenas formação de graduação na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e treinamentos e cursos de formação específicos pelo Instituto Naval da Amazônia (INA). "Alguns cursos deveriam voltar a ser oferecidos em Manaus. Por exemplo, o Curso de Técnico Naval, já oferecido pelo Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam) e o Curso Superior de Tecnologia em Construção Naval já oferecido pela UEA e pela Ulbra", relembrou.
De acordo com o presidente dos construtores navais de Airão-AM, é preciso criar uma escola de formação de técnicos dos setores da construção naval, que trará segurança e confiabilidade aos empregados e empregadores. O Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam) atende somente eletricistas voltados para a indústria civil, enquanto, para o setor naval, é mais escasso. "Talvez seja esse o diferencial tecnológico do Polo Naval do Amazonas, que lhe coíbe de alçar voos mais altos, dentro da competitividade de mercado", afirmou Araújo.
Hoje em dia, os cursos disponíveis pelo Senai-AM são de Solda TIG, MIG, MAG e Eletrodo revestido. Entretanto, Araújo afirma que somente a instituição é insuficiente para atender a demanda local. "O Distrito Industrial toma conta da demanda quase que total do Senai, visto que os laboratórios de soldagem da escola praticamente atendem o distrito, com cursos de soldagem especiais de equipamentos e aparelhos ele-eletrônicos", apontou.
Site: Portos e Navios – 09/12/2022
