Setor portuário carece de mecanismos de fomento à inovação, aponta Ministério
Comparado a outros segmentos da infraestrutura, defasagem no setor portuário em relação à inovação seria de 25 a 30 anos, diz governo
O setor portuário brasileiro enfrenta defasagem de 25 a 30 anos em relação a outros segmentos de infraestrutura no que diz respeito a mecanismos de fomento à inovação, segundo o diretor de Programa de Políticas Setoriais, Planejamento e Inovação do Ministério de Portos e Aeroportos, Tetsu Koike. Ele falou sobre o assunto durante o Painel 3 do Encontro Nacional de Autoridades Portuárias Hidroviárias (ENAPH), nesta quarta-feira (29), no Fórum Nacional do Brasil Export, em Brasília.
“Quando você olha a nossa lei de portos, ela não cita a palavra inovação, desenvolvimento tecnológico e não cita o verbo inovar”, afirmou Koike. A ausência contrasta com setores como petróleo e gás, que desde os anos 1990 destinam 1% da receita das concessionárias para pesquisa, desenvolvimento e inovação. Em 2024, esse percentual representou R$ 4,2 bilhões em investimentos, detalhou.
O setor elétrico também conta com estrutura semelhante. Geradoras, transmissoras e distribuidoras aplicam entre 0,5% e 1% da receita operacional líquida em atividades com recursos gerenciados pela Aneel. O montante anual atinge R$ 900 milhões.
Segundo Tetsu, o Ministério de Portos e Aeroportos criou uma diretoria dedicada à inovação para trazer consistência e sustentabilidade ao tema. “Não é uma questão de modismo e de querer correr atrás dos outros. É uma questão de autossustentabilidade, de sobrevivência, de competitividade, capacidade concorrencial”, enfatizou.
INOVAÇÃO
Para o diretor-presidente da Companhia Docas do Estado da Bahia (Codeba), Antônio Gobbo, que também participou do debate, a inovação começa “por fazer melhor o que já deveria ter sido feito. “O problema é que historicamente se confundiu estabilidade com estagnação”, disse o executivo.
A Codeba passou a adotar o critério de técnica e preço para contratações complexas, conforme determina súmula do Tribunal de Contas da União. O dirigente citou como exemplo problemas em licitações de controle de acesso portuário feitas anteriormente por menor preço, que resultaram em prazos e serviços precários.
“Ninguém precisa de uma diretoria nova. Só precisa de comprometimento e boas práticas de gestão”, afirmou.
Ele mencionou ainda o pagamento de adicional de periculosidade aos trabalhadores portuários, medida que permitiu a abertura de duas novas portarias bloqueadas e a reorganização do fluxo de veículos. A companhia também implementou credenciamento para pátio de triagem, com aplicação da teoria das filas para melhorar a dinâmica operacional.
ENERGIA EÓLICA OFFSHORE
O diretor-presidente da Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern), Paulo Henrique Macedo, destacou a integração do setor portuário com a cadeia produtiva de energia eólica offshore.
O estado possui potencial de produção de energia eólica e campos de petróleo na margem equatorial em fase avançada de exploração. A Codern assinou acordo de cooperação técnica para viabilizar sítio de testes de aerogeradores offshore, provavelmente o primeiro do Brasil.
“O Rio Grande do Norte praticamente não teve a cadeia produtiva instalada. Eu costumo dizer que só não levaram vento no Rio Grande do Norte porque não conseguiram, mas toda a cadeia produtiva saiu”, relatou Macedo sobre o ciclo anterior de energia eólica onshore.
Macedo apontou que a companhia encontrou o porto sem negócios, sem cargas e com infraestrutura por fazer. A empresa busca parcerias com institutos como o ISE-SENAI para incorporar pesquisa aplicada ao desenvolvimento portuário.
Site Benews – 30/10/2025
