2025-03-13
Brasil critica taxação dos EUA sobre aço e avalia medidas para proteger exportações

Segundo Haddad, diálogo será a primeira opção, mas país não descarta acionar a OMC e adotar contramedidas no comércio exterior

O Governo Federal reagiu à decisão dos Estados Unidos de elevar para 25% as tarifas sobre as importações de aço e alumínio do Brasil. A medida, que entrou em vigor nesta quarta-feira (12), foi confirmada pelo governo americano no dia anterior e afeta diretamente as exportações brasileiras desses produtos. Em nota conjunta, os ministérios das Relações Exteriores (MRE) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) classificaram a decisão como “injustificável e equivocada” e destacaram que a imposição de barreiras unilaterais prejudica a relação comercial entre os dois países.

Segundo o governo brasileiro, a taxação terá um grande impacto nas exportações nacionais de aço e alumínio para os Estados Unidos, que, em 2024, somaram cerca de US$ 3,2 bilhões. O Brasil é um dos principais exportadores de aço semiacabado para o mercado norte-americano, fornecendo 60% do total das importações dos EUA desse insumo essencial para a indústria siderúrgica local. Além disso, o Brasil é o terceiro maior importador de carvão siderúrgico dos EUA, com compras que somaram US$ 1,2 bilhão no ano passado.

A nota oficial também ressalta que os Estados Unidos mantêm um superávit comercial de longa data com o Brasil, que foi de US$ 7 bilhões em 2024, apenas em bens. O governo brasileiro destacou o histórico de cooperação e complementaridade econômica entre os dois países e criticou a decisão do governo americano de cancelar os arranjos vigentes relativos a cotas de importação desses produtos.

Diante da taxação imposta pelos Estados Unidos, o governo brasileiro afirmou que avaliará todas as possibilidades de ação no campo do comércio exterior para minimizar os impactos negativos da medida. De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é buscar o diálogo antes de qualquer ação retaliatória. “O presidente Lula falou ‘muita calma nessa hora’. Já negociamos outras vezes em condições até muito mais desfavoráveis do que essa”, declarou Haddad, após reunião com representantes da indústria do aço.

O setor siderúrgico brasileiro já apresentou ao governo um relatório com argumentos técnicos para a negociação. Haddad afirmou que o Ministério da Fazenda prepara uma nota técnica com as propostas da indústria, que será enviada ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, para subsidiar as discussões com os representantes do governo norte-americano.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, também enfatizou que a estratégia inicial será o diálogo. “Eu tenho uma reunião agendada, que o Alckmin está liderando, com o governo americano para tentar chegar ao entendimento. O presidente só tomará alguma posição depois dessa reunião”, afirmou Costa. Segundo Haddad, os empresários do setor apresentaram argumentos consistentes de que a taxação não é vantajosa nem mesmo para os Estados Unidos. “Vamos levar para a consideração do governo americano que há um equívoco de diagnóstico”, disse o ministro da Fazenda.

Apoio

O governo brasileiro pretende buscar apoio do setor privado e avaliar medidas para defender os interesses dos produtores nacionais. Já estão previstas reuniões para as próximas semanas para discutir estratégias de ação. Entre as possibilidades, o Brasil pode recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), instituição responsável por mediar disputas comerciais internacionais. Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos são membros da OMC, que abrange 98% do comércio mundial.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto Aço Brasil, que representa os produtores de aço, também manifestaram preocupação com a medida e reforçaram a necessidade de convencimento do governo norte-americano via negociações diplomáticas.

Os Estados Unidos são um dos maiores compradores do aço brasileiro. Segundo dados do Instituto Aço Brasil, em 2022, 49% do total do aço exportado pelo Brasil teve como destino o país da América do Norte.

Site Benews – 13/03/2025


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