3º Prêmio Portos e Navios tem SCPAR Porto de Imbituba como vencedora e recorde de projetos inscritos
A terceira edição do Prêmio Portos e Navios de Responsabilidade Socioambiental trouxe durante o Ecobrasil 2023 - 16º Seminário Nacional sobre Indústria Marítima e Meio Ambiente amostras de ações de valor desenvolvidas no setor e que inspiram boas iniciativas e bons projetos alinhados com a agenda ESG (boas práticas socioambientais e de governança, em tradução livre). Com número recorde de participantes inscritos, a premiação apresentou programas que conseguiram romper as dificuldades iniciais de diálogo e, em algumas vezes, de recursos para estruturar as ações e que ajudam a conscientizar as comunidades locais, melhorando a relação porto-cidade.
Pela segunda vez, a SCPAR Porto de Imbituba foi a vencedora do prêmio, desta vez com o programa de educação ambiental Costa Butiá, executado pela Acquaplan Tecnologia e Consultoria Ambiental. A iniciativa resgatou a arte ancestral do artesanato local a partir da palmeira do butiá-da-praia, espécie encontrada em poucas regiões, como litoral catarinense e no norte gaúcho. O projeto realizou capacitações e ofereceu oficinas de plantio de mudas dos butiazeiros e exposições de artesanato, além de doações de 600 mudas para 17 cidades de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. As chamadas trançadeiras de Imbituba conseguiram incremento de renda de até 80%.
A oceanógrafa e educadora ambiental do grupo Acquaplan, Giseli Aguiar de Oliveira Fernandes, diz que o projeto ajudou na recuperação de um patrimônio cultural imaterial, com inestimável valor que estava em vias de extinção. Uma técnica com dois séculos que foi resgatada pelo projeto, graças a lembranças de uma moradora da região e alguns aprimoramentos. Ao todo, foram investidos R$ 90 mil na iniciativa, que tornou o artesanato com palha de butiá referência de matéria-prima de Santa Catarina.
“Nosso principal recurso é a criatividade e potencial que as pessoas já têm. Tem que saber desenvolver esse potencial da comunidade”, destaca Giseli. O projeto vencedor faz parte do programa de educação ambiental da SCPar Porto de Imbituba, condicionante da licença de operação da empresa e executado pela Acquaplan. O programa já realizou mais de 90 capacitações, com quatro mil participantes do Brasil e até de países vizinhos, como Argentina e Uruguai, onde a planta também é encontrada.
Giseli acrescenta que uma parceria com o laboratório de tecnologia de sementes do Rio Grande do Sul ajudou no desenvolvimento de mudas para a conservação do butiazeiro, que tem crescimento lento, de até 15 anos para produzir os primeiros frutos. Por essas características, as mudas de butiá não são encontradas para venda. A técnica desenvolvida pelo laboratório quebra a dormência da semente por meio do calor em algumas semanas.
Giseli explica que o projeto é sustentável econômica, ambiental e socialmente, tendo permitido a comercialização de produtos fabricados a partir da palha do butiá para moradores, empresários e turistas, além da elevação da autoestima das trançadeiras e a valorização do ser humano, seus dons, habilidades, potenciais e tradição cultural. “Hoje, elas vendem chapéus e isso tem sido ampliado desde 2019. Em algumas épocas do ano, as trançadeiras chegam a ganhar 80% de incremento na renda”, ressalta Giseli.
Os demais finalistas que receberam menção honrosa foram: Terminal Portuário de Vila Velha (TVV/Log-In), com o projeto Comunidade a Bordo; o Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), com o projeto Troca Solidária; e o Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros - Suape, com o projeto Escom Massangana. A premiação ocorreu ao final do Ecobrasil 2023, promovido pela Portos e Navios e que tem a coordenação técnica da Cisporto Consultoria. Nesta terceira edição do prêmio, a primeira após a pandemia, 22 projetos foram inscritos no total, de empresas de todo o país, sendo representados os segmentos de portos e terminais, estaleiros, empresas de navegação, fabricantes e mineradoras.
Um dos projetos a receber menção honrosa foi o CAB – Comunidade a Bordo, que atua nas regiões em torno do Terminal Portuário de Vila Velha (TVV), no Espírito Santo, promovendo ações para assistência e desenvolvimento das comunidades por meio de cursos, oficinas, assistência profissional, eventos e momentos de lazer. “Esse reconhecimento reafirma que estamos fazendo um bom trabalho, ouvindo, apoiando e caminhando junto das comunidades à nossa volta. Impactando, de maneira positiva, a vida de muitas pessoas”, disse Paula Oliveira, gerente de consultoria interna, área idealizadora do projeto do grupo Log-In.
A supervisora de RH da Log-In, Graziela Martins, que conduz o projeto, destaca que os colaboradores voluntários e os parceiros do projeto contribuem muito para a iniciativa se expandir. Baseado nas informações coletadas no diagnóstico, foram planejadas diversas ações com foco em educação ambiental, resgate e memória do bairro e valorização da cultura local. Durante os meses de execução do programa, foram realizadas reuniões com os moradores para apresentar o status e obter feedback das ações.
Graziela conta que o diagnóstico inicial do CAB levantou a memória de moradores mais antigos sobre como o bairro surgiu e ajudou a elaborar ações desde o começo de 2022. As histórias serviram de inspiração para painéis pintados por grafiteiros e crianças do bairro durante as oficinas, representando o porto, o manguezal e a antiga área do ferrinho, onde havia um depósito de ferro-gusa, no qual parte da comunidade peneirava a areia para separar o ferro e vender para complementar a renda.
O programa abrange ações nos institutos Esperança (ISE), totalmente custeado pelo TVV, e Artes sem limites, que depende de doações. O balanço do CAB, em 12 meses, registra mais de 750 beneficiários das mais de 70 oficinas, que somam mais de duas mil horas de dinâmicas e em torno de R$ 400 mil em doações referente às 20 diferentes atividades.
Graziela conta a história de um jovem de 17 anos, cujos pais tinham envolvimento com o tráfico de drogas, e que hoje fala que está vivo graças às atividades do instituto. Ela diz que um professor de judô voluntário do CAB o encaminhou para uma escola, dando um voto de confiança ao jovem, que hoje é um judoca e já foi medalhista em campeonatos. “Ele tem uma história diferente pra contar. É gratificante saber que estamos conseguindo impactar a vida de crianças e famílias na comunidade em que estamos inseridos”, avalia.
O CAB tem possui história de reintegração social, como a de um menino que estava retraído em casa e na escola durante o período de pandemia e que melhorou nos estudos a partir da participação de oficinas do Instituto Esperança e da escolinha de futebol. Também há casos de mulheres que sofriam de depressão e se reencontraram com um projeto para artesãs. A agenda ESG da Log-In (2021/2023) reúne 55 iniciativas e metas, compondo três pilares de atuação (Gente; Cadeia de Valor e Meio Ambiente), atendendo à meta de promover o desenvolvimento social local e contribuir para a melhoria das condições de vida das comunidades onde atuamos.
A TCP, que administra o Terminal de Contêineres de Paranaguá (PR), também recebeu menção honrosa como finalista pelo projeto Troca Solidária, que tem como objetivo conscientizar as comunidades insulares da região de Paranaguá a praticarem a separação de resíduos sólidos recicláveis, reduzindo a poluição do meio ambiente e garantindo uma nova fonte de renda para as famílias. “É por meio de projetos como este que auxiliamos a introduzir conceitos de educação ambiental, incentivamos a preservação da natureza e a sustentabilidade na região”, destaca o gerente institucional, Allan Chiang.
O recolhimento do material é feito pelo mercado flutuante, embarcação que passa uma vez por mês nas comunidades. Cada material reciclado é pesado e convertido em dinheiro social para as famílias que participam do programa. Esta moeda é usada para a compra de alimentos, além de itens de higiene e limpeza disponíveis na embarcação, que comercializa produtos com preços até 40% abaixo do valor regular de mercado.
O material reciclado vai para a Associação de Catadores e Recicladores Nova Esperança, localizada na Ilha de Valadares. O programa atua nas comunidades de Europinha, Eufrasina, Amparo, Piaçaguera, São Miguel, Ponta de Ubá e Ilha dos Valadares e já realizou mais de cinco mil atendimentos. “A TCP estimula o desenvolvimento social do litoral paranaense por meio de apoio a projetos locais. Desde 2012, já apoiamos 232 projetos socioambientais e, a cada ano, estamos evoluindo neste conceito”, conclui Chiang.
A supervisora ambiental da TCP, Carolina Kalinowski de Souza, explica que o diagnóstico socioambiental participativo, feito em conjunto com a comunidade de Paranaguá, consiste em entrevistas que identificaram pontos comuns em questões problemáticas na gestão de resíduos nessas regiões. Desde março de 2015, o Troca Solidária busca garantir a correta gestão dos resíduos, contribuir para o desenvolvimento socioambiental das comunidades.
Carolina detalha que o programa promove a educação ambiental das comunidades, levando conhecimento sobre valor que esses resíduos representam. “Esses resíduos não necessariamente precisam ser descartados e podem trazer retorno financeiro e contribuir para a renda dessas familias”, acrescenta. Um dos objetivos dessa iniciativa, segundo a supervisora, é facilitar o acesso de famílias carentes a itens da cesta básica.
O número médio de famílias participantes do Troca Solidária subiu de 62, em 2019, para 106 famílias, em 2016, 147 (2021) e 145 (2022). O programa recolheu um total de 355 mil quilos de resíduos recicláveis que deixaram de ser enterrados, queimados a céu aberto ou descartados no oceano. A TCP é a única investidora desse projeto e aportou quase R$ 1,03 milhão nos últimos oito anos. A expectativa é que esse montante alcance R$ 1,120 milhão até o final deste ano. Desde 2015, a TCP executou mais de 200 projetos socioambientais. “O Troca Solidária, além de trazer valor para as comunidades, traz impacto extremamente positivo para o meio ambiente”, destaca Carolina.
O Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros - Suape recebeu menção honrosa com o projeto Estação Compartilhar (Escom) Massangana, localizada no Cabo de Santo Agostinho, na região Metropolitana do Recife. Inaugurada em janeiro de 2022, a Escom está localizada na comunidade homônima, fica a cerca de dois quilômetros do centro administrativo da estatal. Um dos objetivos do projeto foi se aproximar e melhorar a relação com as 27 comunidades remanescentes da implantação do complexo, que tem o quinto porto público em movimentação no país, com mais de 80 indústrias instaladas dentro de sua zona industrial, num território de 17,3 mil hectares.
O coordenador de gestão ambiental portuária do complexo industrial portuário de Suape, Paulo Teixeira de Farias, diz que essa relação das comunidades com o empreendimento não foi fácil e que muitas das famílias não aceitaram ser transferidas ao longo do processo de construção e expansão das instalações, sempre com desconfiança em relação à administração do porto. “Intensificamos o diálogo nos últimos cinco anos. Temos um passivo muito grande, mas estamos conquistando confiança dessas comunidades novamente com diálogo e participação”, aponta Farias.
Farias conta que a ideia inicial era criar uma biblioteca, mas a comunidade tinha outras demandas e sinalizou que precisava de um equipamento que trouxesse inovação, inclusão social e empoderamento feminino. O espaço utilizado oferece oficinas e atividades para incentivo à leitura, pesquisa e debate, recreação, além de salas para reforço escolar para crianças e uma cozinha-escola, que tem muita procura.
Em pouco mais de um ano, o projeto beneficiou 600 famílias, com mais de sete mil pessoas atendidas até março de 2023, entre crianças, jovens, adultos e idosos, por meio de 140 atividades realizadas. “Construímos juntos e o que era uma biblioteca se transformou na Escom”, destaca. O coordenador enfatiza que a sustentabilidade é um dos principais pilares e que o projeto Escom está em sintonia com a agenda ESG e em consonância com o plano diretor de Suape, que tem desenvolvimento sustentável entre suas diretrizes.
Suape investiu até hoje R$ 860 mil no projeto, com recursos próprios. A iniciativa aproveitou 100 metros quadrados de uma área construída para incluir a demanda da comunidade, com espaços multifuncionais e de introdução à tecnologia, capacitações, com incentivo ao empreendedorismo e geração de renda. Mais de 1,9 mil pessoas beneficiadas com capacitações diversas. “Conseguimos transformar esse espaço de 100 metros quadrados, atendendo toda essa demanda”, diz Farias.
Ele ressalta que o próximo objetivo é levar uma unidade à Vila Cepovo, beneficiando também as comunidades de Praia de Suape e de Nova Tatuoca, atendendo a aproximadamente 1,2 mil famílias. Acrescenta que é importante para a administração do porto reduzir a desigualdade social no território por se tratar de uma empresa pública. “A ideia é que todas as empresas, dentro de sua responsabilidade socioambiental, entrem em parceria com a gente para que tornemos isso uma realidade”, destaca Farias.
Site: Portos e Navios – 29/05/2023