Pesquisa aponta necessidade de tecnologias disruptivas para apoiar intermodalidade
Levantamento do Ilos identifica que desenvolvimento de sistemas pode melhorar fluxos ao longo da cadeia logística. Instituto observa gargalos estruturais que ainda impactam armazenagem e escoamento de produtos
Uma pesquisa recente do Instituto de Logística (Ilos) sobre o uso de tecnologias na cadeia de suprimentos identificou que o modal marítimo ainda enfrenta alguns desequilíbrios na cadeia que se traduzem em ineficiências operacionais, na medida em que necessita de conexão com outros modais terrestres (rodoviário e ferroviário) para movimentar carga de porta a porta. Parte considerável das empresas ouvidas pelo instituto entende que precisa desenvolver soluções de intermodalidade dentro dos seus sistemas de gestão de transporte nos próximos anos.
“Observamos que, mesmo em tecnologias maduras, como sistemas de gestão de transportes, existem algumas funcionalidades a serem desenvolvidas, dentre as quais aplicações para intermodalidade”, comentou Leonardo Julianelli, sócio-executivo do Ilos e um dos responsáveis pela pesquisa, à Portos e Navios.
O levantamento apontou dois caminhos para a tecnologia apoiar a intermodalidade do Brasil. Um deles é o desenvolvimento de novas funcionalidades dentro dos sistemas de gestão de transporte existentes, permitindo às empresas fazerem gestão do fluxo de transporte entre modais de maneira mais fluida em seus sistemas.
Outra frente são novas tecnologias que proporcionem maior visibilidade da cadeia, sejam eles ativos de movimentação, como veículos, navios, mas principalmente estoques que vão favorecer a coordenação melhor dos processos de transbordo ao longo do cadeia e maior fluidez. Para Julianelli, isso vai exigir sensorização e uso de inteligência artificial para fazer o manejo das informações.
O instituto observa que as ferramentas utilizadas para gerenciar individualmente cada etapa da cadeia produtiva e da cadeia logística, dentro da função original de melhorar a gestão das etapas da cadeia, já encontraram seu limite. Os pesquisadores categorizaram as tecnologias que viabilizam maior visibilidade ao longo dos elos da cadeia, tais como uso de sensores que permitem localização precisa e online dos estoques ao longo da cadeia.
“Na medida em que se tem visibilidade ao longo da cadeia, se reconhece momentos de chegadas dos navios, trens e veículos. Se consegue coordenar operações de transbordo de maneira mais eficiente”, explicou Julianelli. O sócio-executivo do Ilos vê tendência de substituição da necessidade de estoque por incertezas associadas aos lead times por uma informação precisa que permite manejar melhor os recursos disponíveis na cadeia.
“Essa fronteira que as empresas, de maneira geral, enxergam como novo desafio de supply chain, de trazer mais visibilidade, que permite lidar com complexidade maior na cadeia, seja pela diversificação de portfólio, seja pela complexidade de canais, são tecnologias que vão auxiliar enormemente”, projetou Julianelli.
O Ilos avalia que o uso de inteligência artificial, com algoritmos que vão permitir ao setor lidar com uma massa de dados mais granular do que a trabalhada atualmente, possibilitará melhor conexão entre os elos da cadeia. “Muitas vezes, precisamos trabalhar com dados agrupados que não dão visibilidade clara do que está acontecendo na cadeia no nível que precisamos hoje, dada a complexidade na qual as empresas estão inseridas”, analisou.
Para o sócio-executivo do Ilos, a tecnologia pode de alguma forma melhorar os fluxos ao longo da cadeia, mas o problema de armazenagem no Brasil é estrutural, devido à falta de investimentos. A avaliação é que não existem modais de transporte que permitam maior fluidez da safra para os portos, o que aumenta a demanda por armazenagem para guardar esses grãos. “Não é problema pontual da cadeia, é estrutural de limitação do país que transborda para infraestrutura de armazenagem que poderia ser menor se houvesse modais mais eficientes para movimentação dessa carga”, apontou.
Julianelli acredita que a tecnologia vai ajudar a minimizar gargalos existentes nas interconexões de transportes, diminuindo um pouco a necessidade de armazenamento da safra de grãos, fazendo com que eles escoam mais rapidamente, desde a produção até os portos para exportação. “Não há tecnologia disruptiva que solucione o problema de armazenagem, que deve continuar se agravando na medida em que a taxa de juros subiu e há mais dificuldades de justificar investimentos. Com isso acaba tendo desincentivo para ampliação do parque de armazenagem do país como um todo”, afirmou.
Resultados
A pesquisa ‘Aplicação de tecnologias de Supply Chain no Brasil’, realizada pelo Ilos, traz uma visão do uso de tecnologias na cadeia de suprimentos no país no cenário pós-pandemia. Os resultados, apresentados em outubro durante o 28º Fórum Internacional de Supply Chain, apontaram a necessidade de adequação das atividades de transporte, armazenagem e distribuição dos produtos.
O estudo identificou que, cada vez mais, novas ferramentas, aplicativos e sistemas tornaram-se essenciais para garantir eficiência e agilidade em todo o processo de gerenciamento da cadeia logística. Este cenário foi acentuado pela ruptura gerada pela pandemia, que trouxe nova estruturação do supply chain, demandando avanço tecnológico suficiente para atender o alto nível de exigência dos novos consumidores.
Os resultados mostram ainda que muitos sistemas e equipamentos estão em estado embrionário de implementação no Brasil ou são focados em certos tipos de empresa, enquanto outros já são bastante difundidos. Uma das tecnologias que ganhou destaque nas respostas dos executivos é o RFID (Identificação por Rádio Frequência). A solução representa uma evolução ao código de barras, permitindo que os dados da etiqueta RFID possam ser lidos fora da linha de visão por meio de ondas de rádio, sem exigência comum de aproximação de um scanner óptico.
Conforme o levantamento, o RFID faz parte da rotina de quase metade (42%) das empresas, sendo direcionado, principalmente, para o rastreamento dos produtos nos armazéns. A visibilidade alcançada pelo RFID permite, ainda, que as empresas utilizem as informações disponíveis sobre os seus produtos para compartilhar com os seus clientes. A pesquisa do Ilos também revelou que o uso de tecnologias avançadas, como realidade virtual e veículos autônomos, ainda têm um baixo índice de adoção, sendo utilizados por 16% e 6% das empresas respondentes, respectivamente.
Além disso, foi mensurada a utilização de sistemas especializados para gestão das operações logísticas, como o TMS (Transport Management System) e o WMS (Warehouse Management System), utilizados por 76% e 87%, respectivamente. Há algumas tecnologias já consolidadas usadas pela maioria das empresas e com espaço para crescer. Segundo Julianelli, são ferramentas que vêm sendo desenvolvidas desde a década de 1990 para apoiar executivos da área na melhoria da produtividade e performance, mas que agora enfrentam novos desafios.
Site: Portos e Navios – 03/11/2022
