2022-10-27
Digitalização de equipamentos portuários precisa vencer tradicionalismo, dizem especialistas

Um dos entraves é implantar tecnologias digitais em itens já existentes, que tenham vida útil estrutural significativa e possam ser aproveitados, como eletrônicos dedicados, que são desenvolvidos para integração entre sistemas de monitoramento e automação

O processo de digitalização de equipamentos utilizados em portos e terminais portuários do Brasil é mais cadenciado, pelo fato de ser um setor muito tradicional da indústria, e a adoção de novas tecnologias depende – e muito – de uma mudança quase cultural, considerando que elas vêm sendo implantadas, normalmente, por meio de novos equipamentos que já contam com “tecnologias embutidas”. É o que destacou Frederico Mol à Portos e Navios, diretor de novos negócios da Kot Engenharia, empresa especializada em soluções para segurança, produtividade e cálculos estruturais de ativos industriais, localizada em Belo Horizonte (MG).

“Diversos equipamentos de manuseio de cargas já possuem tecnologia de monitoramento incorporada – como, por exemplo, a telemetria – pela qual os dados de operação dos equipamentos são enviados de forma direta para os fabricantes que, por sua vez, utilizam esses dados para monitorarem sobrecargas e desenvolverem melhorias nos equipamentos. Tais melhorias visam ampliar a durabilidade dos equipamentos e aumentar a segurança operacional, evitando acidentes”, disse Mol.

Em sua opinião, a grande dificuldade da indústria portuária é implantar essas tecnologias nos equipamentos existentes, que tenham uma vida útil estrutural significativa e ainda possam ser aproveitados. “Nesses casos, equipamentos eletrônicos dedicados podem ser desenvolvidos para a integração do sistema de monitoramento com o sistema de automação existente nos equipamentos e na planta portuária”, salientou o diretor de negócios.

O consultor em redes de nova geração da Associate Partner na Kyndryl Brasil, José Felipe Ruppenthal reconhece que o processo de adoção de novas tecnologias digitais na indústria marítima – como Digital Twin, Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT), Blockchain, entre outras – ainda está muito lento e, de forma geral, isso está ocorrendo em todo o mundo, não apenas por aqui.

Nesse cenário, existem alguns grandes limitadores, como a falta ou escassez de empresas especializadas, eventos e materiais que possam ajudar a desenhar a jornada tecnológica da indústria marítima portuária. “Também observamos a falta ou a baixa qualidade da infraestrutura de conectividade para suportar essas novas tecnologias. No Brasil, isso é muito evidente e uma parte dessa situação será resolvida com a ampliação da fibra, do LTE (Long Term Evolution) e do uso de 5G no âmbito público ou privado”, comentou à Portos e Navios.

De acordo com Ruppenthal, até pouco tempo, não existiam tecnologias que suportassem uma quantidade massiva de dispositivos – como contêineres, guindastes, veículos, entre outros – com qualidade e, novamente, o 5G será essa tecnologia disruptiva.

Impacto nas operações

A gerente de operações da PhDsoft Technology, Rosana Ellis, analisou que as tecnologias têm progredido muito rapidamente e impactado as operações portuárias. “A indústria marítima, assim como muitas outras, estão interessadas na atualização e adoção de novas tecnologias que promovam a redução de custos e aumentem a produtividade e a segurança”, disse à Portos e Navios.

“Acredito que vamos ver um crescimento exponencial de adoção de tecnologias na indústria marítima no Brasil, nos próximos anos. Pelo menos, é o que esperamos, pois estamos vendo esse crescimento nos Estados Unidos e em países da Europa”, ressaltou Rosana. A PhDsoft Technology é precursora na adoção de tecnologia “digital twin” na indústria marítima, após ter lançado a primeira versão do primeiro gêmeo digital do mercado, em 1993, e conquistado a Transpetro como primeiro cliente, em 1995. Segundo a empresa, somente oito anos depois é que o termo “digital twin” foi criado.

A gerente de operações citou seu primeiro cliente na indústria marítima: o Porto de Houston, nos EUA: “No Brasil, estamos trabalhando com o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, e temos vários outros portos globais interessados em nossas tecnologias, inclusive, o Porto de Tangier, no Marrocos. No momento, estamos focando em guindastes, docas, boias, pontes e até sistemas elétricos, ou seja, todos os ativos que são de importância para nossos clientes e que necessitam de monitoramento”.

Rede wireless privada

Um case de sucesso sobre adoção de novas tecnologias digitais vem do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), no Paraná. Em agosto deste ano, a empresa portuária se tornou a primeira do país licenciada para utilizar uma rede wireless privada LTE. Para tanto, empregou R$ 1 milhão nessa tecnologia, que visa trazer mais segurança, menos riscos de danos e melhor atendimento às cargas.

Com esse investimento, o TCP busca estabelecer um sistema produtivo de alta disponibilidade, para suportar sua operação de missão crítica. A tecnologia LTE (Evolução em Longo Prazo, em português) foi implementada adicionalmente à rede wi-fi. A empresa manterá ambas em produção para maior disponibilidade operacional.

“O projeto LTE faz parte do plano de arquitetura de alta disponibilidade da infraestrutura, sendo necessário para atender ao grande volume de movimentações que o terminal realiza, atualmente superior a um milhão de TEUs, o que caracteriza a TCP como um terminal internacional de grande escala. Nosso objetivo é fazer com que a TCP ofereça o melhor e mais tecnológico sistema de contêineres da indústria”, afirmou Walter Maria Júnior, gerente de TI do Terminal de Contêineres de Paranaguá, em comunicado.

Site: Portos e Navios – 27/10/2022


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