45% das indústrias usam modal portuário para escoar seus produtos
Transporte por caminhões ainda é unanimidade para 99% dos industriais, embora 38% afirmem que fariam essa troca por outro modelo logístico, conforme aponta pesquisa inédita da CNI feita com 2,5 mil executivos
O transporte rodoviário por caminhões é praticamente unanimidade para 99% dos empresários do país, em relação ao escoamento de produtos das indústrias brasileiras, seguido pelo aéreo com 46%. No entanto, uma porcentagem significativa utiliza o sistema aquaviário para essa mesma finalidade: 45% transportam seus insumos pelos portos/terminais portuários, 13% pela cabotagem e 12% pelas hidrovias. É o que apontou a pesquisa inédita no Brasil “Infraestrutura: Demandas e prioridades dos empresários”, feita com 2,5 mil executivos do setor industrial e divulgada nesta terça-feira (18) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com a FSB Pesquisa.
Conforme a instituição, do total de entrevistados, apenas 8% das indústrias utiliza, atualmente, o modal ferroviário para o transporte e logística de mercadorias, mas 28,5% transfeririam o escoamento das rodovias para os trilhos, se eles não estivessem ruins ou em péssimas condições para 31% dos respondentes. Ainda apontou que 38% dos industriais trocariam as rodovias por outro tipo de transporte.
Essa mudança para outro modelo logístico seria feita por 64% dos executivos com o objetivo de reduzir os custos e por 16% para obter mais agilidade na entrega de seus produtos, sendo que 46% deles consideraram o custo como principal problema na logística e operação de suas empresas e 84% apontou como alto ou muito alto. O valor do frete para 79% é o grande vilão do custo logístico. Outros problemas relatados foram o roubo de cargas (22%), más condições dos modais (20%) e má qualidade da frota (7%).
O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, acredita que os aumentos dos investimentos em infraestrutura e a diversificação dos modais de transporte são mais que necessários para reduzir os custos dos serviços e da produção em todo o país. “Essa pesquisa mostra que há um enorme déficit na oferta de opções de transportes no Brasil. O custo logístico das empresas e consequentemente dos produtos para o consumidor só serão menores quando tivermos uma infraestrutura adequada”, disse o executivo.
Embora tenham indicado muitos gargalos, especialmente relacionados aos transportes, 56% dos empresários ouvidos pela FSB Pesquisa classificaram as condições de infraestrutura para as indústrias como 'boas ou ótimas', apesar de que três dentre as quatro mais bem avaliadas não estejam no setor de transporte de cargas. Na avaliação deles como ótimas ou boas, as áreas que estão em melhores condições no Brasil são a de energia (65%), telecomunicações (60%), transporte aéreo (56%), saneamento básico (48%), transporte por rodovias (46%), portos (39%) e, por último, transporte por hidrovias (16%) e por ferrovias (16%).
O gerente de transporte e mobilidade urbana da CNI, Matheus de Castro avaliou que, mesmo diante da extrema dependência dos caminhões para o transporte de cargas no país, há um enorme déficit na oferta de serviços de transportes rodoviário, ferroviário e hidroviário. “Se tivéssemos mais oferta na parte da logística, o custo total do transporte para a indústria seria muito inferior. Isso vai muito além da disponibilidade de caminhões ou trens, é tudo que envolve e contribui para a maior eficiência da movimentação de cargas no país”, analisou.
Na opinião de Castro, o Brasil tem potencial para o transporte de cabotagem, hidroviário e ferroviário, especialmente após a criação do programa BR do Mar e da aprovação do novo marco legal de ferrovias. “Temos um grande potencial para equilibrar melhor a nossa matriz de transportes. Nenhum outro país continental, como o Brasil, utiliza tanto o transporte rodoviário como a forma principal da movimentação de cargas e de pessoas. Não faz sentido o modal rodoviário ser tão utilizado em distâncias longas”, ressaltou o gerente.
Longas distâncias
Segundo a CNI, embora o modal rodoviário seja indicado apenas para pequenas e médias distâncias, somente 48% dos industriais apontaram trajetos com média inferior a 500 quilômetros para transportar suas mercadorias pelo Brasil afora. A pesquisa destacou que existem situações de embarques de cargas industriais saindo de São Paulo com destino a Belém (PA), ou o envio de produtos da indústria alimentícia de Porto Alegre (RS) para Teresina (PI), com percursos de aproximadamente 2,9 mil e 3,7 mil quilômetros, respectivamente.
Para a CNI, a utilização do sistema rodoviário nesses tipos de despachos leva a perdas econômicas decorrentes de um custo logístico maior, associado ao aumento do consumo de combustível, acidentes, engarrafamentos, emissões de poluentes e deterioração dos veículos e das vias brasileiras. Tudo isso traz perdas de competitividade para o setor produtivo nacional em relação a outros mercados.
Site: Portos e Navios – 19/10/2022
