Agentes veem boas oportunidades para ligação entre Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim
Embaixador uruguaio no Brasil destacou que investimentos para conexão entre duas lagoas, no Rio Grande do Sul, e navegabilidade é um projeto binacional que beneficiará dois países.
Agentes do setor portuário e autoridades uruguaias acreditam que o projeto para a navegabilidade entre a Lagoa dos Patos e a Lagoa Mirim, no Rio Grande do Sul, ampliará consideravelmente as oportunidades logísticas para os dois países. A avaliação é que os investimentos se viabilizam por ser relativamente mais simples do que outras hidrovias do Brasil e que o projeto pode se consolidar por meio de parceria público-privada (PPP). O projeto foi incluído como prioridade no Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) no final do ano passado e pode se tornar o primeiro piloto de privatização de uma hidrovia no país.
O diretor-geral da Antaq, Eduardo Nery, afirmou, nesta terça-feira (17), que os investimentos são factíveis diante da importância do projeto de ligação que representará um marco nas hidrovias e um ponto de partida. Nery confirmou que o projeto poderá ocorrer por PPP e explicou que o estreito canal de São Gonçalo, que liga as duas lagoas, é natural e deve precisar de poucas intervenções. Ele explicou que a eclusa servirá para regularizar o fluxo hídrico e impedir a contaminação de águas salgadas na Lagoa Mirim. "Pela magnitude de investimentos, a parceria concebida deverá ser viável para que a hidrovia Lagoa Mirim seja realidade", projetou durante painel do evento Sul Export.
O diretor-geral acrescentou que o contrato de concessão dará mais segurança jurídica para a empresa que desejar explorar a hidrovia, por meio de um contrato que pode chegar a 25 anos para manter o nível de serviço. A hidrovia terá composições com até 90m de comprimento, 30m de boca e 2,5m de calado. “Se espera, com a viabilidade e implantação da hidrovia, atrair investimentos privados para fazer instalações. É natural a participação da iniciativa privada”, disse Nery.
No mesmo painel, o embaixador do Uruguai no Brasil, Guillermo Valles, considera que prolongar a hidrovia da Lagoa dos Patos até a Lagoa Mirim é uma ligação relativamente simples, na medida em que fará uma integração de Lagoa Mirim, de água doce, com uma via que já conecta a Lagoa dos Patos, de água salgada, que se conecta a Rio Grande, Pelotas, Porto Alegre, podendo chegar a Porto Estrela. O trajeto, de aproximadamente 250km de extensão, tem 18 terminais portuários
Valles destacou que trata-se de um projeto binacional, com obras nos dois países, que demandará R$ 80 milhões para dragagem, balizamento, sinalização e manutenção de uma porção pequena. No lado uruguaio, existe o projeto de um terminal portuário no Rio Taquari, segundo afluente da Lagoa Mirim. Um terço da Lagoa Mirim se encontra em território uruguaio. O embaixador destacou que após a dragagem inicial de 3 milhões de toneladas de areia, serão necessários em torno de 200.000 m³ de areia com dragagem de manutenção.
Ele estima que esses investimentos, da ordem de R$ 100 milhões, podem beneficiar o desenvolvimento de um milhão de hectares no Uruguai que poderiam ser destinados à produção agrícola intensiva de trigo, soja, milho e outras cargas. Valles acredita que o projeto é viável, sobretudo diante do impacto socioeconômico. “As cargas uruguaias não têm que obrigatoriamente que sair por portos uruguaios porque elas têm que sair pelos portos mais vantajosos/menos custosos para nossos produtores e exportadores. Se tem que sair por Rio Grande, que seja assim. Essa é a verdadeira integração”, disse o embaixador.
O líder regional de logística da Braskem, Carlos Eduardo Campos, disse que a parceria com a Wilson Sons aproveitou um píer que estava ocioso na região para movimentação e cargas. “A Wilson Sons hoje movimenta 800 contêineres pela hidrovia, [unidades] que retiramos do modal rodoviário e agregamos à logística local, com frete competitivo para a Wilson Sons e budget extra para a Braskem para área existente”, destacou. O Tecon Santa Clara iniciou suas operações com uma barcaça, em outubro de 2016, quando a parceria entre as duas empresas reativou o píer IV do terminal e retomou o transporte de carga pelo Rio Jacuí, entre Triunfo e o Porto do Rio Grande.
Site: Portos e Navios – 18/05/2022
