2022-11-10
Agregar valor a exportações passa por fortalecer intermodalidade, apontam analistas

Avaliação é que commodities permanecerão como base dos produtos remetidos ao exterior e próximo governo precisará avançar em muitos temas para promover mudanças no perfil do comércio internacional brasileiro

No discurso após o resultado das eleições, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que seu governo pretende buscar parcerias e acordos comerciais que contribuam para ampliar o perfil exportador brasileiro, que historicamente se concentra em commodities. Para especialistas ouvidos pela Portos e Navios, mudar esse cenário passa por grandes desafios que ainda precisam ser enfrentados e que impactam a agenda de exportação brasileira. Eles observam que são necessários avanços na integração do transporte multimodal como forma de alavancar o comércio exterior brasileiro.

O diretor de comércio exterior da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra), Arno Gleisner, considera que o próximo governo enfrentará enormes dificuldades para alavancar as exportações brasileiras, como na logística, na escala e no previsto recuo do comércio internacional, porém, também há inúmeras oportunidades. "A maior delas está no rearranjo das cadeias de suprimento. Os anos bem recentes revelaram a necessidade da busca de fornecedores, pelo menos parciais, mais próximos e confiáveis e o Brasil apresenta estas qualidades principalmente para os mercados norte-americano, europeu e sul-americano", comentou.

Durante a campanha, o presidente eleito chegou a declarar que pretende investir em portos e ferrovias para fortalecer o transporte intermodal. “Se o Estado não for o indutor do investimento, ele não acontece. Vamos apostar em ferrovias para fortalecer o sistema intermodal de transportes no Brasil. Temos uma costa marítima de 8 mil quilômetros, precisamos de mais navios para carregar cargas de um lugar para o outro, precisamos de trem e de caminhões”, disse o então candidato.

Gleisner, da Cisbra, acredita que toda evolução tecnológica e tributária que facilite a integração multimodal será bem-vinda. Segundo o diretor, os efeitos dos congestionamentos em portos, restrições da pandemia, desordem na disponibilidade de contêineres e altíssimos fretes internacionais ainda estão presentes, mas devem ser superados, levando à maior competitividade das soluções logísticas, inclusive com novos recursos e alternativas.

Assim como o diretor da Cisbra, José Augusto de Castro, presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), também vê como essencial o investimento na integração de transporte multimodal, focando na redução do custo da logística e melhorando a infraestrutura e os aspectos tributários. "Nosso país precisa de reformas, sejam elas tributárias ou administrativas. Temos que diminuir custos. Hoje, temos um conjunto de fatores negativos que fazem com que as exportações sejam caras, então temos que tirar esses obstáculos para dar sequência", comentou.

Segundo o relatório "Desafios à Competitividade das Exportações Brasileiras" da Confederação Nacional da Indústria (CNI), dentre as 43 maiores dificuldades, as questões relacionadas à logística são indicadas como as mais desafiadoras pelos exportadores. Entre elas aparecem o custo do transporte internacional, as tarifas elevadas cobradas por administrações portuárias e aeroportos e o custo do transporte doméstico.

O professor de economia associado da Fundação Dom Cabral (FDC), Carlos Primo Braga, também vê na integração de transporte multimodal uma vantagem para o comércio exterior. "Ela colabora porque aumenta a competitividade do país, seja com o agronegócio ou com produtos manufaturados. O custo da logística, em termos de faturamento bruto das empresas, gira em torno de 12% a 13%. Ou seja: a logística tem um peso importante e eles estão associados ao transporte. Se você tem uma estrutura de transporte mais competitiva, multimodal e eficiente, você naturalmente vai ter mais competitividade para o produto brasileiro", apontou.

Braga acredita que o governo continuará apostando nas commodities para expansão na balança comercial dos próximos anos e se sente pessimista quanto ao aumento da exportação de manufaturados. Para o professor, não haverá mudança além do discurso, a menos que se consiga aumentar a produtividade da economia brasileira e realizar uma reforma tributária, melhorar a questão de infraestrutura e controlar a inflação. Ele observa o agronegócio como um setor com mudanças potenciais, inclusive com algumas em curso relacionadas à melhoria da infraestrutura.

O professor projeta que essa tendência deve continuar, porém é fundamental a criação de um ambiente próprio para investimentos, particularmente na área de transporte. “O Brasil vem, nos últimos 30 anos, investindo algo de 0,8% do PIB na infraestrutura de transporte, enquanto países que competem com ele investem praticamente mais de 2% do PIB. Esse é um dos calcanhares de aquiles que temos. Está melhorando, mas vai fazer muita diferença?", questionou.

No discurso após a confirmação do resultado das eleições presidenciais, Lula prometeu que, durante seu mandato, as relações comerciais serão priorizadas com foco na soberania nacional, inclusive com o país deixando de remeter apenas commodities ao exterior. “Queremos um comércio internacional mais justo. Retomar nossas parcerias com os Estados Unidos e a União Europeia em novas bases. Não nos interessam acordos comerciais que condenem nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e matéria-prima”, afirmou o presidente eleito, no último dia 30 de outubro.

O Brasil é o quarto maior produtor de grãos do mundo, atrás apenas da China, dos Estados Unidos e da Índia, sendo responsável por 7,8% da produção mundial, segundo um estudo elaborado pela Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (Sire) da Embrapa. Até maio de 2022, a soja foi o produto mais exportado do país, totalizando US$ 24,1 bilhões, o equivalente a 18% de participação nas exportações brasileiras no período, de acordo com os dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).

Em 2021, o Brasil ocupou o 25º lugar entre os maiores exportadores do mundo, com o montante de US$ 281 bilhões endereçados ao exterior, o que corresponde a 1,3% do comércio de exportações. Do outro lado, o país foi o 27º maior importador, com 1% do total das importações globais, correspondentes a US$ 235 bilhões.

Site: Portos e Navios – 10/11/2022


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