2022-06-28
Lockdowns, sazonalidade e turbulência no setor de petróleo impactam balança comercial

Em volume e preços, houve crescimento das importações ao contrário das exportações, resultando em queda do superávit em maio, sobre igual período de 2021, conforme o relatório Icomex da FGV Ibre 

A queda das exportações brasileiras para a China decorrente dos lockdowns no país asiático, a sazonalidade da produção agrícola e, consequentemente, dos embarques da soja e as turbulências no mercado brasileiro de petróleo e derivados são os principais responsáveis pelo desempenho da balança comercial do país, que registrou um aumento das importações no mês de maio. É o que apontou o relatório Indicador de Comércio Exterior (Icomex) do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), vinculado à Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Em volume e preços, houve um crescimento das importações ao contrário das exportações, resultando em queda do superávit em maio, sobre igual período de 2021. As vendas externas para o mercado chinês tiveram uma freada, mas o gigante asiático continua liderando o saldo positivo da balança comercial.

“As exportações cresceram, em termos de volume, no início deste ano e depois têm caído sucessivamente. Isso pode estar, em parte, relacionado a um maior embarque da soja, no início do ano, e porque ainda estamos fazendo revisões do crescimento do comércio mundial, que também reflete na demanda global das exportações brasileiras, ainda mais que a China, nosso principal parceiro, esperava crescer 5,5% e está crescendo menos”, analisou a economista Lia Valls, pesquisadora associada do FGV Ibre e responsável pelo Icomex, à Portos e Navios.

Conforme o relatório, o saldo da balança foi de US$ 4,9 bilhões em maio, o que ocasionou uma redução de US$ 3,6 bilhões em relação a igual mês de 2021. Nos cinco primeiros meses deste ano, o superávit passou de US$ 26,6 bilhões, no ano passado, para os atuais US$ 25,4 bilhões.

O levantamento também destacou que, apesar das oscilações, o superávit de 2022 pode encerrar com desempenho superior ao do ano anterior, desde que a variação no volume importado desacelere, em um cenário de elevação de preços das commodities.

Cenário mundial

O Icomex apontou que o aumento das exportações, no mês passado, foi um reflexo do crescimento dos preços (53,8%), considerando que o volume exportado caiu 19,4%. O mesmo comportamento envolve o acumulado do ano: as variações nos preços de importações foram de 92,8% e de 81,2%, na base de comparação mensal e do acumulado, respectivamente. O volume importado aumentou, mas com taxas bem menores: 6,8% (em maio) e 13,3% (acumulado do ano).

Ainda destacou que, no caso das exportações, a Organização Mundial do Comércio (OMC) revisou o crescimento do comércio mundial de 4,7% para 3%, em 2022, como reflexo da guerra entre Rússia e Ucrânia, da desaceleração do crescimento econômico na China e da aceleração da inflação, o que leva a políticas de aumento de juros e redução do aumento da demanda.

China e outros mercados

Segundo principal produto de exportação para o mercado chinês, atrás da soja, o minério de ferro registrou queda no volume e nos preços, assim como o grão e a carne suína. Destacaram-se as exportações de carne bovina para o país asiático, com expansão de 91%, em valor. A China, de acordo com o Icomex, continua registrando o maior superávit no comércio bilateral do Brasil, com US$ 14,4 bilhões.

Em um compilado da FGV Ibre, de janeiro a maio de 2022, as exportações brasileiras aumentaram para todos os mercados, exceto China e Ásia (exclusive China). A queda para o gigante asiático foi de 13,1% e de 2,4% para os demais países do mesmo continente.

O maior crescimento foi registrado para a América do Sul (exclusive Argentina), seguido da União Europeia e da Argentina. As importações caíram em todos os mercados, exceto as originárias da China.

Petróleo e derivados

O destaque do relatório da FGV Ibre ficou para o desempenho comercial da conta de petróleo e derivados, que diminuiu seu superávit de US$ 2,8 bilhões, em fevereiro de 2022, foi declinando nos meses de março e abril, chegando ao menor patamar (de US$ 88 milhões), em maio.

De acordo com o relatório, a participação de petróleo e derivados nas exportações totais foi de 13% e nas importações, 15%. As vendas externas desse grupo cresceram 23,9% e as importações tiveram alta de 109%, na comparação entre maio de 2021 e igual mês de 2022.

“A queda do superávit do petróleo e derivados se deve muito mais ao aumento de preços das importações do que das exportações dessas comodities e isso, naturalmente, se reflete em termos de valor. Por outro lado, o volume importado aumentou e o exportado caiu. Parte disso pode ser atribuído ao receio de mais turbulências do mercado interno, o que pode ter causado uma compra antecipada desses produtos, por parte dos importadores, como forma de garantia de seus estoques”, comentou a economista Lia Valls.

Agropecuária e outras indústrias

A FGV Ibre também apontou que, no mês de maio, o volume exportado da agropecuária sofreu uma queda significativa de 25,7%, sobre igual período de 2021; da indústria extrativa recuou 6,4%; e da indústria de transformação aumentou em 1,4%. No acumulado de janeiro a maio, o mesmo comportamento se repetiu e apenas a indústria de transformação registrou variação positiva de 7,7%. Os preços aumentaram para todas as atividades, mas foi a agropecuária que experimentou a maior elevação.

Conforme o Icomex, a queda nas exportações foi liderada, portanto, pela agropecuária, sendo atribuída à sazonalidade, principalmente da soja – um cenário recorrente no setor de agronegócios.

“A agropecuária caiu em maio, pelo fato de as exportações de soja terem ocorrido, em maior número, no início do ano. E isso se deve à questão sazonal. No entanto, nossa agropecuária é muito influenciada pelo comportamento da China, principal demandante dos produtos do agro brasileiro. A China tem reduzido seus níveis de atividade por causa dos lockdowns, que se acentuaram e agora trouxe seus reflexos em maio”, afirmou a economista Lia Valls.

Na análise mensal, a indústria extrativa se destacou pelo aumento de preços (149,4%), sendo a única a registrar queda nas importações (0,3%). No comparativo interanual do acumulado do ano até maio, a indústria extrativa alcançou o maior aumento de preços (113,9%) e de volume (19,5%). Tanto em volume importado como em aumento de preços, a agropecuária e a indústria de transformação desaceleraram.

“O setor extrativo é muito influenciado pelo minério de ferro, que também teve um recuo de sua demanda. O volume da indústria de transformação teve um desempenho de volume maior, influenciada pela maior exportação de óleo combustível, levando em conta que o diesel (que está com preços em alta no Brasil) é usado por ela”, avaliou a pesquisadora do FGV Ibre. Para ter acesso ao estudo completo do Icomex/FGV Ibre

Site: Portos e Navios – 28/06/2022


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