Projetos de conexões ferroviárias animam gestores de portos do Nordeste
Itaqui (MA), Pecém (CE) e Suape (PE) acreditam que melhoria de acessos e integração de linhas aumentarão área de abrangência, permitindo atração de novos cargas.
Gestores de portos públicos do Nordeste acreditam que o avanço de projetos ferroviários, incluindo a extensão dos ramais principais, melhoria de acessos e integração de ‘short lines’ vão impulsionar o aumento de movimentação e a atração de novas cargas. O desafio é que os projetos se concretizem nos próximos anos para não perder o ‘timing’ dos investimentos privados em terminais dentro e fora das poligonais. Os administradores portuários também esperam que as autorizações ferroviárias trazidas pelo novo marco do setor aumentem a capilaridade da rede, ampliando a área de prospecção dos portos.
O Porto do Itaqui (MA) movimenta cargas de oito estados, com destaque para os estados do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), além do Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. A área de abrangência tem dois fluxos principais — de exportação de grãos e celulose e de importação de fertilizantes, combustíveis e outras cargas como GLP, matéria-prima de cimento e carvão. Eventualmente, o porto também exporta manganês e ferro gusa.
A celulose produzida no sul do Maranhão, por exemplo, é 100% transportada até o porto por ferrovia. Já os grãos, cuja movimentação superou 13,4 milhões de toneladas em 2021, são transportados em cerca de 50% por trem e os demais 50% por caminhões. O percentual dos combustíveis que trafegam por trilhos na logística de Itaqui é da ordem de 60%.
A Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap) avalia que os últimos leilões de arrendamentos atraíram novos investimentos privados para Itaqui, como os terminais de líquidos que serão operados pelas empresas Santos Brasil e Ultracargo. A previsão é que a capacidade de movimentação e armazenagem desse segmento de carga no porto passe dos atuais 340.000 m³ para 750.000 m³ até 2025. “Todos os projetos que temos levam em consideração a ferrovia", frisou o presidente da Emap, Ted Lago.
A expectativa da Emap é que, até o final de 2025, o projeto da pêra ferroviária de Itaqui esteja consolidada, ampliando a atual capacidade de recepção por trilhos, que hoje regula entre 10 milhões e 12 milhões de toneladas, o que ainda permite operar com certa folga. A autoridade portuária estima de 8 milhões a 10 milhões de toneladas adicionais nesse corredor, atendendo às necessidades das instalações portuárias. Os investimentos na pêra para melhorar a eficiência e recepção de cargas por trilhos em Itaqui é da ordem de R$ 650 milhões, que inclui o projeto e os equipamentos.
Lago acrescentou que está sendo concluído o ramal ferroviário que permitirá o escoamento de fertilizantes pela arrendatária Companhia Operadora Portuária do Itaqui (Copi). A Emap prevê que, em julho, devem descer do Maranhão para Tocantins os primeiros fertilizantes, incrementando essa logística que operou 3,3 milhões de toneladas por caminhões, em 2021. “A partir de julho, esperamos ter, pelo menos, 50% da capacidade descendo de trem, chegando a 5 milhões de toneladas em 2025, com esse incremento absorvido pela ferrovia”, disse Lago.
Outra aposta é que, a partir da conclusão da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), seja possível movimentar mais fertilizantes. Lago explicou que a expansão ferroviária atendendo a região do Araguaia e nordeste do Mato Grosso dará capacidade de retorno a composições de grãos que hoje retornam vazias para as zonas produtoras. Ele acrescentou que as melhorias de acesso ferroviário ao porto beneficiarão cargas líquidas, dando maior agilidade ao fluxo. “Quando se tem uma ferrovia bem consolidada, se tem facilidade de escoar combustíveis com a mesma estrutura, conseguindo movimentar mais cargas por dia e a composição leva mais carga”, afirmou.
Lago acredita que o novo marco regulatório das ferrovias, que permite a exploração de tramos ferroviários por meio de autorização do governo federal, contribuirá para atração de investimentos privados para o setor, viabilizando as chamadas ‘short lines’, que se conectam às ferrovias principais. “Esse marco regulatório veio num momento bom. É preciso aumentar a capacidade e existe interesse do investidor privado, com liquidez para bons projetos de infraestrutura”, avaliou.
Entre os novos projetos de integração porto-ferrovia, outro destaque é a construção da Nova Transnordestina, interligando o sul do Piauí ao Porto do Pecém (CE) e criando um corredor logístico em área não atendida pelo modal ferroviário e que pode gerar grande movimentação de novas cargas. O Complexo do Pecém avalia que a conclusão da Transnordestina elevará a competitividade da produção agrícola e mineral da região, integrando o Ceará à região do MATOPIBA com uma logística que une uma ferrovia de alto desempenho a um porto de calado profundo com capacidade para receber navios de grande porte. A operação está prevista para começar no final de 2025.
A administração do complexo espera um elevado impacto nas movimentações do Porto do Pecém, principalmente das cargas de granéis sólidos (minérios de ferro e outros) e grãos (milho e soja). As expectativas em Pecém são de um impacto mais expressivo na exportação de granéis sólidos, podendo chegar a duplicar os números de movimentação do porto, tornando-se um diferencial competitivo. Atualmente, a maior parcela de granéis sólidos movimentada pelo porto é no sentido importação.
Pecém aposta na zona de processamento de exportação (ZPE) Ceará, que já está em atividade no porto. “O setor 1 da nossa ‘free trade zone’ já opera há quase nove anos. Recentemente, inauguramos o setor 2 da ZPE para receber novas indústrias. É uma oportunidade, por exemplo, para que cargas movimentadas pela Transnordestina sejam beneficiadas na nossa ZPE e sigam para exportação”, destacou o presidente do Complexo do Pecém, Danilo Serpa.
Serpa disse que o projeto será uma oportunidade de promover redução dos custos logísticos de exportação, aumento do valor das terras do cerrado nordestino, reorganização espacial da produção agrícola e atração de novos empreendimentos para a região, gerando empregos e desenvolvimento sustentável para toda a região Nordeste. Ele projetou a chegada de grandes volumes de cargas oriundas da região formada pelo norte do Tocantins, oeste da Bahia e leste do Piauí, portanto. “O minério de ferro, a soja, junto com o milho e o algodão, podem se transformar nas cargas-âncora que irão tornar o empreendimento sustentável e gerador de divisas para todos os entes federativos envolvidos no projeto”, afirmou.
O Complexo de Suape assinará, nos próximos dias, a ordem de serviço para viabilizar o ramal ferroviário do porto com a Transertaneja. O trecho de 9,7 quilômetros entre o entroncamento da BR-101 com a Rota do Atlântico (PE-09) e a porção leste da Ilha de Tatuoca, no complexo portuário e industrial, será objeto de estudos para adequação e atualização do projeto executivo do acesso ferroviário à futura Transertaneja. O ramal vai viabilizar a instalação de um terminal de minério na Ilha de Cocaia, para escoamento da produção de jazidas localizadas em Curral Novo, no Piauí, a 703 quilômetros do porto. O empreendimento está previsto no plano diretor 2011 da estatal. O consórcio formado pelas empresas TPF Engenharia e B&C Engenheiros Consultores Ltda foi o vencedor da licitação. O prazo de execução do contrato é de 300 dias. O investimento neste projeto executivo, para viabilização desta etapa de implantação da ferrovia no território de Suape, é de R$ 5,3 milhões.
A Transertaneja é vista em Suape como uma alternativa à Transnordestina, iniciada em 2006, e que permanece inacabada por causa de sucessivos atrasos na obra, a cargo da TLSA, empresa responsável pela concessão do serviço. A autorização para construção do novo ramal foi assinada pelo Ministério da Infraestrutura, em dezembro de 2021. A obra será tocada pela iniciativa privada e tem custo estimado de R$ 5,7 bilhões. Em abril, foi publicada no Diário Oficial da União uma decisão que retirou a ilha dos limites do porto organizado de Suape, para instalação do terminal.
O diretor de engenharia da estatal portuária, Cláudio Valença, acrescentou que a contratação foi necessária para atualização do antigo projeto executivo, de 2014. “Nesse período, já foram identificadas erosões de solo em alguns trechos importantes do ramal. Além disso, será preciso readequar o traçado por causa da implantação de novas empresas nas proximidades do antigo ramal”, explicou Valença.
A administração de Suape considera que será uma preparação da infraestrutura do porto para a chegada do projeto ferroviário, que terá impactos para toda a cadeia produtiva de Pernambuco e estados vizinhos. “Há uma infinidade de novas possibilidades de negócios para diversas cargas, como grãos e veículos, por exemplo ”, declarou o diretor-presidente de Suape, Roberto Gusmão.
Site: Portos e Navios – 23/05/2022
