2022-05-04
Praticagem avaliará uso de tecnologias espaciais

Comitiva da Agência Espacial Brasileira visita instalações da categoria em Santos e assina termo de intenções com Praticagem do Brasil para estudos sobre aplicação de soluções para atividade. Sistemas disponíveis podem contribuir com medição dos calados nos canais de acesso.

A Praticagem do Brasil e a Agência Espacial Brasileira (AEB) assinaram, nesta terça-feira (3), um protocolo de intenções para troca de conhecimento e desenvolvimento de estudos voltados ao uso da tecnologia espacial na atividade de praticagem. O objetivo é o uso de aplicações que melhorem a comunicação e aumentem a qualidade e precisão das informações utilizadas pelos práticos, principalmente em áreas mais remotas. Um dos desdobramentos do protocolo pode ser a aplicação dessa tecnologia para medição dos calados nos canais de acesso aos portos.

O presidente da AEB, coronel engenheiro Carlos Augusto Teixeira de Moura disse que os satélites empregados pela agência são sensores em órbita que conseguem observar a Terra e podem coletar dados meteorológicos, de marés e correntes. Esses sistemas também têm outras aplicações usadas, por exemplo, em sistemas de comunicação e previsão de eventos extremos. “Viemos conhecer a praticagem para ver como podemos contribuir. Acreditamos que podemos melhorar a qualidade das informações que impactam nesse trabalho” afirmou Moura, que visitou as instalações da Praticagem de São Paulo, em Santos.

O presidente da Praticagem do Brasil, Ricardo Falcão, disse que o acesso à alta tecnologia e ao conhecimento são fundamentais para a excelência do trabalho da categoria. Ele frisou que é necessário investir continuamente para garantir a segurança da navegação, já que a atividade tem como objetivo manter índice o mais próximo possível de 0% de acidentes. “Na Amazônia, onde sou prático, temos muitos problemas de comunicação em diversas regiões e já existem satélites que nos permitem gerar informações para garantir a passagem dos navios em comunidades ribeirinhas”, citou Falcão.

“Às vezes, não precisamos de tecnologia estrangeira porque temos no Brasil pessoas capazes de desenvolver aplicativos e de colocar satélites que resumem informações e nos fazem ter sistema de coordenação de tráfego melhor e sistemas remotos que deem informações de maneira mais dinâmica”, afirmou Falcão, que também é vice-presidente da Associação Internacional de Práticos Marítimos (IMPA).

Para o diretor-presidente da Praticagem de SP, o prático Bruno Tavares, o universo de aplicação da tecnologia espacial na praticagem é muito abrangente. Na parte de batimetria, ele apontou a medição das profundidades, por meio das imagens de satélites. Outras potenciais aplicações, segundo Tavares, estão a previsibilidade para as manobras e a comunicação em áreas remotas. Ele acredita que a parceria vai ajudar o Porto de Santos e outros portos do país. “São duas entidades que lidam diretamente com tecnologia e isso pode trazer muitos benefícios”, projetou.

Nos EUA, a agência espacial americana (Nasa) e a Praticagem de São Francisco, na Califórnia, já fizeram trabalhos em conjunto com universidades sobre a questão da fadiga humana. O tema é considerado relevante para a praticagem, já que o prático não pode trabalhar nem demais, a ponto de ficar fadigado, nem de menos, a ponto de perder a experiência — sob pena de comprometer a segurança. “Ambas as áreas (espacial e praticagem) trabalham em extremos e com níveis de responsabilidade e limites muito semelhantes. Com engenharia e conhecimento, procuramos aperfeiçoar os sistemas”, acrescentou Moura, da AEB.

A comitiva também teve a presença do diretor de gestão de portfólio da AEB, Paulo Barros, e do diretor de governança do setor espacial da agência, Cristiano Trein. Além de Falcão e Tavares, representaram o segmento o diretor administrativo da Praticagem do Brasil, o prático Marcello Camarinha e o diretor-superintendente da Praticagem de São Paulo, prático Hermes Bastos Filho. O presidente e os diretores da AEB conheceram o Centro de Coordenação, Comunicação e Operações de Tráfego (C3OT), que apoia o trabalho dos práticos e realiza o controle de tráfego e das operações dos navios em parceria com a autoridade portuária. Os dados ambientais coletados pelo centro serviram de base para a implantação no Brasil do sistema de calado dinâmico (ReDraft), que calcula com mais precisão o calado máximo das embarcações, gerando mais segurança para as manobras e eficiência para a atividade portuária.

À tarde, estava previsto o embarque da comitiva em uma lancha de praticagem para conhecer as instalações do Porto de Santos e assistir ao embarque de um prático em um navio. Nesta quarta-feira (4), o grupo visitará o Tanque de Provas Numérico da Universidade de São Paulo (TPN-USP), em São Paulo. O laboratório é referência em simulações de manobras de navios e mantém uma parceria de mais de 10 anos com a Praticagem do Brasil, que já contribuiu com a formação de mais de 20 mestres e doutores. Ainda na USP, Moura e sua diretoria serão apresentados às pesquisas da Escola Politécnica na área aeroespacial.

Site Portos e Navios – 04/05/2022


Voltar