Paralisação da Tietê-Paraná já causa R$ 3 bilhões em prejuízos
Empresas que utilizam a hidrovia esperam por uma ação mais efetiva do poder público para resolver o problema
A pior crise hídrica dos últimos 91 anos interrompeu um dos principais caminhos para escoamento de produtos agrícolas do Brasil, a hidrovia Tietê-Paraná. Com pouca chuva e o desvio de água para as hidrelétricas, os níveis dos rios Tietê e Paraná ficaram baixos demais para navegação.
Por um lado, as empresas que utilizam o serviços da hidrovia afirmam que falta ação do poder público. Por outro, o órgão estadual responsável pelo trecho paulista diz fazer o possível e acusa o governo federal de não liberar os recursos necessários para obras que poderiam resolver o problema.
As empresas que dependem da via calculam perdas econômicas na ordem de R$ 3 bilhões.
De acordo com Raimundo Holanda Filho, vice-presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), as perspectivas para o futuro são pouco animadoras. “Devido ao agravamento da crise hídrica, que vem desde o ano de 2001, tendo ocorrido paralisação em 2014/15 por 18 meses, o prognóstico é de redução do volume de carga nos próximos anos. Caso não ocorra a volta de chuvas regulares, e de ações/obras como o derrocamento do Pedral de Nova Avanhandava”, ressalta Raimundo, que também é presidente da Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária (Fenavega).
O Brasil vem sucessivamente batendo recordes de produção agrícola e esperava-se o aumento do volume de cargas na hidrovia. Mas, segundo o presidente da Fenavega, devido à escassez hídrica houve uma involução, que reflete na credibilidade do transportador, que assume contratos que fica impossibilitado de cumpri-los. “Acreditamos que, devido a atual interrupção da hidrovia, sem perspectiva de retorno imediato, o cenário que se apresenta é a migração dos clientes do modal aquaviário para outros modais de transporte, exatamente em função da insegurança existente na atividade”, lamenta.
Raimundo ressalta ainda que a paralisação afetou a multimodalidade que havia entre o modal aquaviário e o ferroviário. “Como as embarcações não alcançam os terminais de transbordo em Pederneiras, a ferrovia de Pederneiras ao Porto de Santos também está paralisada, o que acabou afetando o produtor rural, que precisa demandar o transporte rodoviário, cujo frete é mais elevado, acarretando aumento do preço final do produto no mercado externo, perdendo o país a competitividade no cenário internacional. Há perdas econômicas na ordem de R$ 3 bilhões.”
O presidente da Fenavega afirma que desde a primeira paralisação ocorrida em 2001 a Federação vem buscando solução para os problemas. No entanto encontra entraves na administração pública. “O que temos, infelizmente, é política de governo, que muda de tempos em tempos, e que não traz resultados consistentes e de eficácia permanente. As ações são pontuais e ineficazes. Posso dizer que há autoridade a quem corresponde a tomada de decisões sobre a questão, mas não existe competência, aptidão, conhecimento e a vontade política para enfrentar o problema.”
O Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo (DH) rechaça as críticas e diz que vem trabalhando para resolver o problema. De acordo com a assessoria de imprensa do órgão estadual, em maio, quando recebeu alerta do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, informando que a hidrovia poderia ser paralisada em razão da estiagem, o DH defendeu uma redução gradativa de calado e ondas de vazão para permitir a navegação e o escoamento de grãos. O objetivo era retardar a paralisação.
Mas com a redução ainda maior do calado, definida em conjunto com o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), a navegabilidade ficou mais difícil.
O DH faz uma ressalva: “Só não é possível navegar no trecho do pedral de Nova Avanhandava, em Buritama. Neste local, comboios de grãos não conseguem fazer a passagem para os trechos dos reservatórios de Três irmãos e Ilha Solteira. Os outros trechos de Nova Avanhandava até Barra Bonita, da Hidrovia Tietê, possuem navegação e embarcações de transportes - que podem ser de turismo e/ou cargas como cana-de-açúcar, areia, entre outros. Por meio do DH, o governo do estado continuará trabalhando e monitorando os índices”, informa a assessoria de imprensa.
A DH alega ainda que a responsabilidade também é do governo federal, pois entende que é importante mudar a matriz energética do país para diminuir a dependência das hidrelétricas. “Tem faltado uma ação mais firme de planejamento do governo federal para atenuar o problema da estiagem, que é recorrente e vem se agravando em períodos mais recentes. Outro aspecto importante são as obras do Canal de Avanhandava. Caso o DNIT tivesse liberado os prometidos recursos, já teríamos concluído os serviços no pedral de Avanhandava, o que teria impedido a paralisação da hidrovia”, finaliza.
Site Portos e Navios – 11/10/2021
