Grupo discute atração de cargas a partir de reativação de ferrovia entre Barra Mansa e Angra
Empresários acreditam que trecho pode impulsionar exportação do agronegócio do sul de Minas Gerais e até dobrar movimentação anual de contêineres da região de Varginha.
Representantes do Terminal Portuário de Angra dos Reis (TPAR), de prefeituras da Costa Verde e do Sul Fluminense e empresários locais e da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) se reuniram, nesta quarta-feira (1/9), para discutir as oportunidades de ampliar a movimentação de cargas a partir da reativação do trecho entre Barra Mansa e Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. A alternativa ferroviária, com extensão de 105 quilômetros, hoje faz parte da concessão da VLI, em processo de renovação. A expectativa dos interessados nesse trecho é que o projeto possa beneficiar diretamente a exportação de parte da produção do agronegócio do Sul de Minas Gerais, responsável pela exportação de 30% do café brasileiro, além de soja, milho e outras commodities.
A VLI, concessionária da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), se comprometeu a restabelecer o trecho ferroviário entre Varginha (MG) e Barra Mansa (RJ). No entanto, sem a reativação do trajeto até Angra, os empresários locais avaliam que a carga que chega ao município do Vale do Paraíba precisará ser transportada pela Via Dutra ou trocada para vagões de outras ferrovias, o que aumentaria os custos logísticos.
A retomada da operação também pode ser estimulada pela medida provisória, editada no último dia 30 de agosto, que instituiu o novo marco legal do transporte ferroviário e facilitou a devolução de concessões com a conclusão de trechos, como este previsto entre Barra Mansa e Angra. A MP cria a chamada autorização ferroviária, que simplifica a exploração de trechos curtos (short-lines) pela iniciativa privada. “Se não for interesse da VLI operar, podemos ser o operador do trecho entre Barra Mansa e Angra. Inclusive, já manifestamos nosso interesse junto à ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres)", disse Paulo Narcélio, CEO do TPAR e sócio do Splenda Port, empresa que opera o terminal, em entrevista à Portos e Navios.
O Porto Seco Sul de Minas, em Varginha, movimenta cerca de 200.000 contêineres por ano em cargas de importação e exportação por transporte rodoviário a um custo unitário médio de R$ 3.400,00. Os interessados na ferrovia até Angra calculam que o valor do transporte seria inferior a R$ 2.000,00 por contêiner ou equivalente de carga, o que geraria uma economia significativa para os produtores do sul mineiro. O número de contêineres que passa anualmente por Varginha também poderia dobrar com a reativação da linha, melhorando a logística de importação de outras cargas para o Triângulo Mineiro e Goiás, como adubos, fertilizantes, equipamentos e máquinas agrícolas, por meio do terminal portuário de Angra.
O TPAR tem condições de movimentar cerca de 40.000 contêineres por ano num primeiro momento, mas a capacidade poderia alcançar 100.000 unidades. Narcélio acrescentou que, além da redução do custo logístico, a reativação do trecho ferroviário entre Barra Mansa e Angra ajudaria a atrair cargas hoje movimentadas por outros portos do Sudeste, principalmente o de Santos. Ele destacou que a alternativa logística seria mais sustentável, com estimativa de eliminar 50.000 viagens de caminhão por ano.
A Splenda tem uma pré-análise sobre cinco quilômetros que foram afetados por um deslizamento em 2008 e que precisam ser restabelecidos. O grupo espera que o traçado chegue o mais próximo possível do terminal. Ainda precisa ser analisada, por exemplo, a necessidade de investimentos em trilhos, dormentes e composições. A expectativa, segundo Narcélio, é que o deslocamento por rodovia seja o menor possível, o que demandaria instalações para acomodação de área de manobras e retroárea. A ideia é que essa logística seja implementada e comece a operar dentro de dois anos.
A chegada da ferrovia a Angra também beneficiaria o cluster automotivo do Sul Fluminense, que reúne seis montadoras e mais de 100 empresas fornecedoras da produção automotiva. "A ferrovia até Angra dos Reis é de interesse econômico e social para as regiões Sul dos estados do Rio e de Minas. Trata-se de um projeto estruturante que gerará empregos a curto, médio e longo prazos, além de recursos para os municípios da região", acrescentou Leandro Cariello, sócio do Splenda Port.
Site Portos e Navios – 02/09/2021
