Produção de energia renovável cresce, mas infra de transmissão não acompanha
Cenário pode piorar na próxima década, atrasar desenvolvimento do país e colapsar sistema, apontam especialistas
O painel “Implicações da adição energética: curtailment, projetos e financiamentos”, exposto na tarde desta terça-feira (25), durante o Fórum Minas e Energia, abordou os gargalos gerados pela falta de redes de transmissão de energia no país.
O conceito de curtailment se refere aos cortes na geração de energia limpa por limitações do sistema elétrico. Estimativas do setor apontam que esses cortes podem triplicar em uma década, saltando de uma média atual de 2% para até 8%, principalmente no Nordeste do país, que concentra grande parte da produção solar e eólica.
Os debatedores mostraram preocupação com um risco capaz de colapsar o setor, já que, enquanto a geração renovável cresce, a infraestrutura de transmissão não acompanha esse ritmo, o que pode comprometer o retorno financeiro dos projetos e frear novos investimentos.
“Temos, hoje, excesso de geração de energia, principalmente, solar, em algumas horas do dia, e falta de demanda para consumir essa energia que é gerada. O Operador Nacional do Sistema [Elétrico] é obrigado a pedir o desligamento de algumas usinas, e aí essas usinas estão sendo impactadas com perda de receita. A gente tem acompanhado esse problema desde o início, é um problema que ainda não existe uma solução regulatória definitiva mas, por enquanto, os projetos tão suportando essa perda”, disse Renato Santos de Souza, diretor de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES.
Durante o painel, os debatedores destacaram a importância da discussão sobre o financiamento de construção de usinas renováveis, a necessidade de recursos para armazenamento e flexibilidade operacional, capaz de absorver de maneira eficiente picos de geração e evitar desperdícios. Foram discutidos, também, os modelos de investimentos mais adequados e os caminhos para o suporte a projetos voltados ao segmento energético.
“Não há uma solução sistêmica e sim um conjunto de soluções que passam por reforços nas linhas de transmissão. Isso já está planejado. A gente já tem um projeto para reforços e ampliações de linhas de transmissão até 2030 que vai resolver grande parte dos gargalos. Mas, a gente precisa também de estímulo ao crescimento da demanda para eletrificar, para ter mais usos da energia elétrica, principalmente, substituindo fontes fósseis que emitem em gases de efeito estufa”, considerou Renato Santos.
Regulação
O governo criou um grupo de trabalho com o Ministério de Minas e Energia, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) para buscar formas de mitigar o curtailment.
“O grupo Brasil Export resolveu investir nessa questão de mineração e energia porque são elos fundamentais, são pilares muito importantes para o desenvolvimento econômico do país. A gente sempre notou a necessidade de ampliar o diálogo com o setor de mineração e o setor de petróleo, gás e energia, que são muito importantes para garantir o crescimento do país”, declarou Bruno Merlin, diretor de Comunicação do Grupo Brasil Export.
Os debatedores concordaram que se a energia renovável não for bem integrada, haverá perda de geração e de valor de mercado. Investidores podem se desestimular se a energia não chegar ao consumidor, ou se não houver remuneração adequada para os cortes. Algumas alternativas, segundo eles, seriam o financiamento para armazenamento, uma regulação que permite tanto a flexibilidade quanto a expansão de redes de transmissão.
O painel teve ainda a participações do deputado federal General Girão (PL-RN), do diretor de novos negócios da ABEEólica, Marcello Cabral, e do presidente do Renova Energia, Sérgio Brasi.
Site Benews – 26/11/2025
