Com preços menos atrativos, Brasil reexporta fertilizantes
Insumos agrícolas estocados no entreposto aduaneiro do Porto Ponta do Félix, em Antonina (PR), e não comercializados estavam à espera por melhores preços no mercado interno, o que não aconteceu
A guerra entre Rússia e Ucrânia promoveu um verdadeiro corre-corre de empresas importando fertilizantes, mesmo sem compradores certos – no caso, produtores rurais –, diante do receio de faltar um dos insumos necessários para a agricultura. Um dos maiores produtores globais de fertilizantes, o mercado russo é o segundo maior exportador de nitrogenados e o terceiro de fosfatados e potássicos, contribuindo com 16% dos adubos vendidos mundo afora.
Diante do efeito em cadeia decorrente do conflito no leste europeu, também houve a importação de outros países que também são exportadores, como Egito e Jordânia. O resultado disso para o Brasil tem sido fertilizantes estocados e não comercializados, que estavam à espera por melhores preços para negociações no mercado interno. Como isso não aconteceu em curto prazo, os donos das cargas optaram pela reexportação para outras nações que demandam e que estão pagando melhor por eles.
Os primeiros casos de reexportação do país vêm do Porto Ponta do Félix em Antonina, no Estado do Paraná, que possui um entreposto aduaneiro, possibilitando a suspensão do pagamento de tributos sob controle fiscal. A primeira carga, que estava armazenada em recinto alfandegado do terminal desde 23 de julho, veio do Egito e teve como destino os Estados Unidos, no último dia 22 de setembro, quando foram reexportadas 17 mil toneladas de fertilizantes. Já a segunda, que chegou da Jordânia há aproximadamente dois meses, está marcada para sair em até dez dias, com 24 mil toneladas que serão levadas para a Turquia.
“O entreposto aduaneiro permite ao dono da carga olhar mercados, tanto nacionais como internacionais, e destiná-la para a opção que ofereça o melhor netback para ele (tomada de decisão de origem e entrada de portos de matérias primas), em determinado momento. Esse foi o principal motivo da reexportação de um produto que tinha chegado de fora e em nome de um cliente que, avaliando o mercado internacional, optou por reexportá-lo [para os EUA]. O mesmo deve acontecer no máximo em dez dias, pois já temos um barco nomeado que seguirá para outro destino [Turquia], exatamente pela mesma razão”, informou o diretor-presidente do Porto Ponta do Félix, Gilberto Birkhan, à Portos e Navios.
Para o executivo, isso se deve ao fato de que o agronegócio brasileiro não está mais demandando por tantos fertilizantes, mas em contrapartida, o mercado de fora está carente desse produto: “Isso fez com que se tornasse viável, a esse outro cliente, exportar seu produto. E essa é uma das vantagens do nosso entreposto aduaneiro”.
Cenário atual
Especialista em comércio exterior e vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Helio Sirimarco disse ter recebido, com certa surpresa, a notícia da primeira reexportação de fertilizantes do Brasil. Mesmo assim, ele acredita que nada deve mudar o atual cenário do país.
“Nossas importações [de fertilizantes] registraram um volume recorde, no período de janeiro a setembro, e existem dificuldades e altos custos para a armazenagem, o que acabou desencadeando o movimento que, no entanto, é apenas pontual. Isso porque já está ocorrendo uma redução das nossas importações: no primeiro semestre do ano, o Brasil importou um volume muito superior ao do mesmo período de 2021, mas agora, no segundo semestre, o volume importado é somente 4% superior ao do ano passado. Além disso, com base nos line-ups é provável que, nos meses de outubro e novembro, as importações fiquem abaixo em relação a igual período de 2021”, analisou Sirimarco à Portos e Navios.
Ele reforçou que a dificuldade de armazenagem de fertilizantes em todo o território nacional – bem como de outras commodities agrícolas – já é bem conhecida, tendo sido agravada com a antecipação das compras dos importadores, temendo dificuldades de oferta por uma série de variáveis, mas especialmente por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia.
“As importações aumentaram muito rapidamente e, por outro lado, o produtor rural brasileiro diminuiu sua demanda por fertilizantes. Por isso, inclusive, é que temos essas quedas nos preços de 40% a 60%, de maio até agora”, destacou o vice-presidente da SNA.
Site: Portos e Navios – 13/10/2022
