2022-10-11
Atrasos no transporte marítimo impactam exportações de veículos

Medidas restritivas do governo da Argentina e limitação de unidades sem cobrança de impostos por parte da Colômbia foram alguns entraves das vendas externas do Brasil, no mês de setembro

As exportações de veículos brasileiros em geral sofreram uma queda de 47 mil para 29 mil unidades de agosto para setembro, principalmente por causa das restrições que envolvem a liberação de licenças para importação, por parte da Argentina, e pelo fato de a cota de 50 mil unidades sem impostos, para a Colômbia, ter sido atingida rapidamente.

Atrasos de três navios também trouxeram impactos negativos para o setor, conforme divulgou a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A instituição ainda destacou que, embora problemas logísticos tenham causado a queda de 61,7% no mês passado, o acumulado dos nove meses do ano é 31% superior a igual período de 2021.

O presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, enfatizou que o mercado argentino é muito relevante para as vendas externas brasileiras nesse segmento, no entanto, algumas regras impostas pelo país vizinho – como o prazo de um ano para pagamento – tem gerado alguns entraves.

“Estamos digerindo essas medidas e analisando o comportamento. Mas houve realmente uma redução das exportações, principalmente em função da restrição de liberação de licenças para importação. Então, essa é uma discussão muito importante entre o governo brasileiro e o governo argentino”, disse Leite, durante coletiva na última sexta-feira (7).

O executivo acrescentou que esse diálogo é fundamental para o bom andamento das relações comerciais entre os países do Mercosul. “Quando falamos de investimentos, as nossas fábricas têm investimentos de complementaridade. Então, essa restrição de liberação de cestas para importação tem reduzido esse fluxo e isso precisa ter uma solução em relação à Colômbia também, por causa de um acordo que limita as importações em 50 mil unidades [sem a cobrança de impostos]. A partir de 50 mil, você não tem mais essa porta sem a liberação de impostos”, reforçou Leite, também destacando atrasos de rotas de navios levando veículos do Brasil para fora.

Eficiência logística

O gerente-geral da K Line no Brasil – empresa centenária japonesa de navegação, que opera mais de 520 navios de diversos tipos em todo o mundo, incluindo cinco navios cargueiros do tipo Roll-on/Roll off na costa leste da América –, Rafael Cristelo explicou que, diferentemente de um navio de contêiner, o navio Ro Ro é todo fechado, como se fosse um grande estacionamento flutuante, embarcando veículos, maquinários e cargas estáticas.

“Em teoria, nossos cinco navios dedicados deveriam prover duas a três saídas por mês da Argentina e Brasil, para Colômbia, Caribe e México. Contudo, devido ao congestionamento nos principais portos em nossa região, as viagens estão se tornando mais longas e gerando, assim, um atraso nas exportações de veículos saindo da Argentina e Brasil”, relatou à Portos e Navios.

Conforme Cristelo, os congestionamentos nos portos – tanto no Brasil como restante do mundo – gera uma redução na eficiência logística marítima, principalmente em serviços dedicados, como o da K-Line: “Em minha opinião, a fila de navios Ro-Ro nos portos é um dos sintomas criados pela crise na cadeia de suprimentos da indústria automobilística, como a falta de componentes, atrasos de recebimentos e envios de cargas, falta de caminhões, extravios de cargas, sucessivos lockdowns e novas leis antipoluição”.

De acordo com ele, diante da falta de espaço nos navios Roll-on-Roll off, alguns embarcadores estão procurando os navios Lo/Lo (lift-on/lift-off), pelos quais os veículos são içados através de guindastes. “Esse tipo de operação é ainda mais lento, o que piora ainda mais os congestionamentos, causando um efeito dominó”, alertou o gerente geral da K-Line no Brasil.

Site: Portos e Navios – 11/10/2022


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