Operadoras apostam na avaliação de ativos para potencializar campos maduros
Empresas independentes defendem regras mais claras para reduzir risco de investimentos. Petrobras considera fundamental sucesso das transferências de unidades para continuidade da venda de instalações com fator de recuperação reduzido para outras companhias interessadas em alavancá-las
Representantes de empresas independentes apontaram pontos de melhoria para diminuir a instabilidade regulatória e atrair mais investimentos para campos maduros de petróleo e gás. As operadoras, que vêm aumentando o portfólio e a produção na costa brasileira nos últimos anos, enxergam oportunidades para aumento do fator de recuperação e redução de custos produtivos. Elas apostam na avaliação dos ativos, a fim de conhecer melhor as unidades e mapear o maior número de riscos possíveis do negócio, já que, com o passar dos anos, as plataformas acumulam mais passivos de integridade. Também defendem a maior previsibilidade das autorizações e licenciamentos.
O gerente de operações da Trident Energy, Braulio Bastos, ressaltou que as instalações antigas possuem um arcabouço regulatório e uma estrutura administrativa pesados, o que exige organização e qualidade do sistema de inspeção de integridade. Ele contou que a Trident substituiu 2.500 metros de tubulação de quatro plataformas no primeiro trimestre de 2022. Bastos explicou que esse foi um passivo de integridade encontrado que exigiu esforço intenso da empresa nesse período.
Outra dificuldade, segundo Bastos, é a falta de sobressalentes de alguns itens no mercado brasileiro. “Os campos mais antigos não têm requisitos de conteúdo local. Os mercados externos estão mais acostumados a suprir e essa pode ser única alternativa”, comentou, na última terça-feira (27), durante painel da Rio Oil & Gas, no Rio de Janeiro. Na ocasião, ele acrescentou que o processo para a redução de royalties na exploração de campos ainda é incipiente e lento.
O gerente executivo de águas profundas da Petrobras, César Souza, vê uma curva de aprendizado favorável à venda de campos maduros e a novos investimentos para aumento do fator de recuperação das instalações. Ele disse que a antecipação de problemas antes não vislumbrados vem sendo incorporada em processos mais recentes, como em Albacora Leste. “Para a Petrobras é fundamental que esse processo dê certo para os processos futuros. Estamos evoluindo em metodologia com avanço do processo decisivo”, comentou Souza.
O diretor de operações da Petrorio (Prio), Francilmar Fernandes, disse que a avaliação dos ativos é essencial para conhecer melhor os riscos e ter uma visão precisa do timing para o investimento. Ele vê como desafios, na compra e na transição dos ativos, a identificação de riscos e oportunidades para acelerar o máximo possível. “Existe ativo que perde o tempo da salvação”, lamentou Fernandes. Ele explicou que os campos deixam de produzir quando não são mais econômicos e as majors resolvem repassá-los para outra empresa, de menor porte, que tenha interesse em dar uma sobrevida operacional à unidade.
Fernandes entende que segurar a tendência de crescimento dos custos operacionais em campos maduros é um desafio diário para ampliar a produção ou, ao menos, reduzir a queda do número de barris. Apesar disso, ele vê uma transformação no setor a partir dos anos 2000, com a chegada de novas operadoras no mercado em que toda a cadeia foi desenvolvida em prol de uma empresa, a Petrobras. Fernandes acredita que a projeção de que as operadoras independentes vão alcançar a produção de 200 mil barris pode ser uma estimativa modesta. Ele sugeriu que o Brasil pode se adequar vendo áreas com benchmarking internacional.
Site: Portos e Navios – 29/09/2022
