2022-09-19
Refinaria adota modelo de venda de bunker de hubs internacionais

Na avaliação da Acelen, por ser uma estratégia particular a ser adotada por cada refinaria, ainda é cedo para avaliar se outras empresas podem vir a replicar ‘ex-Warf’ no mercado brasileiro

A Acelen iniciou recentemente a venda de bunker em Salvador no modelo ‘ex-wharf’, adotado em grandes mercados mundiais como Cingapura, Roterdã e Houston. O combustível marítimo produzido pela Refinaria de Mataripe (BA) vem sendo fornecido às embarcações que trafegam pela Baía de Todos os Santos, viabilizando o acesso ao produto pelo mercado interno. Para garantir a prestação do serviço, a empresa firmou parceria com a distribuidora Raízen, que fica responsável pela operação regular de abastecimento à região.

Havia expectativa em parte do setor se, a partir da venda de refinarias da Petrobras e da descentralização do mercado, poderia haver a adoção desta modalidade de fornecimento. Para uma fonte ouvida pela Portos e Navios, ainda existem poucos parâmetros para avaliar essa logística de fornecimento, em que a Raízen adquire o produto da Acelen e fica responsável pelas vendas e entregas dos combustíveis marítimos aos armadores. Ela lembra que Salvador é um mercado relativamente pequeno, que era de 15 mil toneladas 20 mil toneladas mensais quando a Petrobras era dona da refinaria, sendo que metade desse volume atendia a própria frota da petroleira. "Olhando de fora, a tendência é ser um mercado de menos de 10.000 toneladas/mês", comentou a fonte.

Procurada pela reportagem, a Acelen informou que o modelo escolhido atende sua estratégia comercial. A empresa, responsável pela refinaria baiana, ressaltou que a adoção do ‘ex-Wharf´ se deu pelo entendimento de que seria o mais adequado para começar suas operações, uma vez que é considerada uma startup e diante do modelo de parceria comercial adotado com o cliente. A expectativa da Acelen é comercializar até 15.000 toneladas de bunker por mês no mercado doméstico, ainda no primeiro ano de operação.

“Com o crescimento da empresa e internacionalização das nossas posições, a tendência é que a Acelen migre para uma modalidade híbrida (‘ex-wharf’ e entregue), uma vez que ter o controle da logística de escoamento e garantir a continuidade operacional da refinaria são pontos fundamentais para as nossas operações”, afirmou a empresa em nota.

A operação é feita por meio de um navio do tipo barcaça, que sai do Terminal de Madre Deus, no recôncavo baiano, para atender tanto as embarcações em viagens de cabotagem, quanto as que seguem em rotas de longo curso. Na avaliação da Acelen, por ser uma estratégia particular a ser adotada por cada refinaria, ainda é precoce avaliar se esse modelo adotado pela empresa pode vir a ser replicado ou até se tornar uma tendência no mercado brasileiro.

Para o consultor Jorge Lourenço, trata-se da quebra de um importante paradigma, uma vez que a Petrobras, principal fornecedora de bunker do país, opera apenas na modalidade “delivered”, na qual comercializa e entrega o produto diretamente ao consumidor final. "Atuando desta forma, a Acelen busca as melhores práticas de mercado, seguindo o padrão internacional de comercialização de combustíveis marítimos", comentou.

Lourenço observa que grandes hubs de bunker, como Cingapura, Roterdã e Houston operam também na modalidade ‘ex-Wharf’, o que fomenta a competitividade e beneficia os armadores. "O modelo merece atenção das agências reguladoras, ANP [Petróleo, Gás e Biocombustíveis] e ANTAQ [Transportes Aquaviários], de modo que possa servir como referência para outros portos. Novas refinarias privatizadas poderão implementar o mesmo sistema em um futuro próximo, uma vez que, em março, o Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] aprovou a prorrogação da venda das mesmas, a pedido da Petrobras", analisou.

Site: Portos e Navios – 19/09/2022

 


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