2022-08-04
Fase 1 do VTMIS nos portos do Rio de Janeiro deve ser concluída no final de 2022

Principais desafios para implantação do complexo sistema de gerenciamento e informação do tráfego de embarcações envolvem multidisciplinaridade do projeto e falta de mão de obra técnica

A primeira fase do projeto do sistema de gerenciamento e informação do tráfego de embarcações (VTMIS) nos portos do Rio de Janeiro, Niterói e Itaguaí, que são administrados pela Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ), deve ser entregue até o final deste ano. Ele foi dividido em três etapas com o objetivo de tornar sua implementação escalonada e modular, até que sejam atingidos os elevados padrões exigidos pela “International Association of Marine Aids to Navigation and Lighthouse Authorities” (Iala) para esse tipo de solução portuária.

É o que destacou, à Portos e Navios, o diretor-presidente do CDRJ, Francisco Antonio de Magalhães Laranjeira, pontuando que a primeira fase conta com a ativação do “Local Port Services” (LPS); a segunda, do “Vessel Traffic Services” (VTS); e a terceira etapa, do próprio “Vessel Traffic Management Information System” (VTMIS).

“Atualmente, a primeira fase do projeto está em curso, abrangendo diversas ações a serem cumpridas, para que se obtenha a ativação de um LPS, tais como: obtenção de dados das bóias meteo-oceanográficas de bóias do programa SiMCosta da FURG/UFRJ (universidades federais do Rio Grande e do Rio de Janeiro); a instalação de novos transceptores de VHF para melhoria das comunicações nos canais de acesso aos portos; a obtenção de imagens de câmera de CFTV de médio alcance, para o monitoramento de tráfego aquaviário”, enumerou Laranjeira.

Ele também acrescentou, como parte da primeira etapa, a implementação do software ReDraft para cálculo de Folga Dinâmica Abaixo da Quilha (FDAQ); a implantação do Sistema de Monitoramento Ambiental (SMA) da Baía de Guanabara; a ativação de Centros de Controle Operacional (CCO); a obtenção de estações base do Sistema de Identificação Automática (AIS); a integração de ao menos um radar aos CCO (Centro de Controle Operacional) dos portos; a contratação de empresa especializada para elaborar o projeto básico do VTMIS dos portos do Rio de Janeiro e Itaguaí; e a contratação e preparação de equipes para o guarnecimento do serviço nos LPS.

“Algumas dessas ações já foram concluídas, tais como a obtenção de dados das bóias RJ-3 e RJ-4 do SiMCosta; a atualização dos transceptores de VHF; a obtenção de imagens de câmera CFTV e o início da utilização do software ReDRAFT para cálculo da FDAQ, ambos no Rio de Janeiro. Todas as outras ações estão em curso”, informou Laranjeira.

Segundo o diretor-presidente da CDRJ, o prazo estimado para conclusão da primeira fase, com a ativação dos LPS, é para o final de 2022, podendo ter alguma ação pendente para o primeiro trimestre do ano que vem. Já a ativação dos VTMIS está prevista para o final de 2024.

Conforme Laranjeira, os principais desafios para a implantação de um sistema tão complexo, como o VTMIS, envolvem a multidisciplinaridade do projeto, levando em conta a necessidade da participação de diversas áreas do conhecimento, a exemplo das engenharias – civil, elétrica, eletrônica, óptica, de sistemas, de telecomunicações, etc –, além da tecnologia da informação (TI), oceanografia, hidrografia, dentre outras que, normalmente, não estão disponíveis no quadro de funcionários de uma única empresa.

“Apesar de possuírem gestores de VTMIS em seus quadros de pessoal, há escassez de mão de obra técnica e especializada nessas áreas do saber, nos portos brasileiros, o que representa um grande desafio para completar as equipes, bem como para a elaboração dos termos de referência/editais de licitação, como também para a fiscalização e acompanhamento dos serviços das empresas contratadas ou prestadoras de serviços afetos a VTS/VTMIS”, disse.

Para Laranjeira, a falta de mão de obra habilitada e disponível para atuar como operadores/supervisores de VTS (VTSO/VTSS) no mercado em geral, em conformidade com as normativas e requisitos estabelecidos na Normam-26/DHN da Marinha do Brasil. “Isso porque, praticamente, toda mão de obra qualificada no país está empregada como VTSO/VTSS ou nas atalaias de praticagem”.

Outros desafios apontados pelo diretor-presidente do CDRJ são os contingenciamentos de recursos, muito comuns no setor público portuário, causando inconstância orçamentária para prosseguimento das ações, fazendo com que possam ocorrer atrasos e adiamentos nos cronogramas dos projetos. “Também há demora nos processos de celebração de contratos de locação e/ou cessão de uso de instalações com vistas à instalação das estações remotas do VTMIS, bem como na obtenção das licenças exigidas para instalação de torres autoportantes com radares, câmeras e radio enlaces”, acrescentou.

ReDraft

O ReDraft já está em funcionamento nos portos do Rio de Janeiro. “O software já é empregado, diuturnamente, pelos práticos do Porto do Rio de Janeiro, exclusivamente como uma ferramenta de apoio à tomada de decisão (‘GO’ e ‘NO GO’), somente em manobras de navios conteineiros de maior calado no Canal Norte-Sul”, disse Laranjeira. Ele relatou que, ao longo de 2021, foram realizadas 20 corridas de verificação para atestar a confiabilidade da modelagem matemática do software.

“Verificou-se que ele é mais conservador, em termos de cálculo do ‘pé de piloto’ do que o mundo real. Hoje, o ReDraft recebe informações das bóias meteo-oceanográficas RJ3 e RJ4 do SiMCosta, bem como os dados advindos de um marégrafo e um anemômetro instalados na ICTSI-Rio, além de um perfilador hidroacústico de correntes (“Acoustic Doppler Current Profiler” – ADCP) instalado na boia 02 do Canal do Tecon”.

Laranjeira espera que, até o final de dezembro de 2022, o ReDraft passe a receber os dados do subsistema de monitoramento ambiental (SMA) do VTMIS do Rio de Janeiro, que será dotado de seis marégrafos, três estações meteorológicas e uma boia meteo-oceanográfica, a ser fundeada nas proximidades da Ilha do Pai, o que deve aumentar, consideravelmente, a acurácia do sistema.

“Aguardamos a conclusão do processo de implantação do SMA na Baía da Guanabara, para que possa ser possível dar início ao ‘ramp-up’ das manobras com calado dinâmico, com vistas à homologação do software pela Autoridade Marítima”, disse Laranjeira, informando que a Companhia Docas do Rio de Janeiro planeja implantar não somente projetos de VTMIS, como também de calado dinâmico nos portos do Rio de Janeiro e de Itaguaí. A expectativa é que a implantação do VTMIS deve apresentar impactos rápidos, em diferentes áreas de atividade do porto, como na área operacional, na segurança da navegação e na proteção do meio ambiente.

Licenciamentos

Laranjeira garantiu que o CRDJ possui todas as licenças para implantação de VTMIS no Rio de Janeiro e em Itaguaí, obtidas junto à autoridade marítima. “A natureza dual do projeto da CDRJ facilitou o processo de implantação dos VTMIS, uma vez que, em dezembro de 2019, foi celebrado um convênio com a Marinha do Brasil (MB), que teve como finalidade promover a cooperação mútua no compartilhamento do uso de equipamentos e de informações em áreas de interesse comum, tais como o sistema de monitoramento e vigilância de áreas marítimas de interesse da Marinha, em face da implantação do Projeto-Piloto do Sistema de Gerenciamento da Amazônia - Azul (PP-SISGAAz) e o VTMIS de docas, voltado para a Baía da Guanabara”, citou.

“Está em fase de tratativas a assinatura de um termo aditivo, com vistas à expansão da cooperação mútua para a Baía de Sepetiba, a fim de atender ao Projeto do VTMIS de Itaguaí. Assim sendo, todas as estações remotas do VTMIS do Rio de Janeiro/Niterói estarão em terrenos da MB e as de Itaguaí deverão ser em sítios dessa Força também”, adiantou Laranjeira.

O diretor-presidente da CDRJ contou que, além disso, a CDRJ firmou um “Termo de Cessão em Condições Especiais com o Exército Brasileiro”, com o intuito de instalar diversos equipamentos e sistemas na Fortaleza de Santa Cruz e que irão compor o VTMIS do Rio de Janeiro e Niterói, fechando, assim, as demandas de sítios para as estações remotas.

Site: Portos e Navios – 04/08/2022


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