2022-07-26
Frete spot no Transpacífico está em queda, aponta relatório

Atividades nos portos norte-americanos da costa oeste caminham para fase de normalização, enquanto os da costa leste, além da União Europeia, continuam com dificuldades, conforme aponta documento “Ocean Port Report – Julho 2022”

Em queda desde o início do ano, as taxas de frete spot na rota transpacífico começam a se distanciar das tendências históricas, mantendo o viés de baixa em curto prazo, uma demanda que poderia ter sido observada mais cedo, não fossem os gargalos de oferta decorrentes dos lockdowns na China, no primeiro semestre de 2022, que culminaram no bloqueio de importantes centros de fabricação e logística, especialmente em Xangai e Shenzhen.

É o que revela o relatório “Ocean Port Report – Julho 2022”, publicado pela plataforma Project44, que fez uma análise sobre as atividades nos portos da costa oeste dos Estados Unidos, que seguem uma trajetória de normalização, enquanto os da costa leste norte-americana e da União Europeia permanecem com dificuldades.

Segundo o documento, os tempos dos navios no cais têm sido bons indicadores da movimentação da atividade portuária estadunidense, levando em conta que eles têm esperado somente quando há complicações com as operações dos próprios portos ou se acontece alguma falta de espaço no terminal para carregar ou descarregar contêineres. Por mais de um ano, esses foram os principais entraves que prejudicaram os portos de Los Angeles e Long Beach, na costa oeste daquele país.

“Enquanto os volumes de transferência portuária continuam acima da linha de tendência pré-pandemia, os tempos de atracação de navios porta-contêineres aumentaram na maioria das regiões, exceto no Golfo dos EUA e na costa oeste dos EUA”, comentou Josh Brazil, vice-presidente de Supply Chain Insights da Project44, na publicação.

Mesmo diante de uma queda de 19% no tempo de permanência dos navios nos portos norte-americanos da costa oeste, esse período continua superior aos da China (282%), Sudeste Asiático (206%), Europa (96%), costa leste dos EUA (98%) e Golfo dos EUA (53%).

O relatório indicou que, em geral, os portos estadunidenses tiveram uma média de permanência maior, apesar da queda na capacidade de TEU implantada nos portos do Golfo, costas leste e oeste do país, na comparação entre 22 de junho e 22 de maio. Apenas a costa oeste registrou um aumento de 7,3% no número de navios, embora a capacidade em TEU tenha caído no mesmo período.

Movimentação de contêineres

O documento também destacou a movimentação de contêineres de transbordo, que sofreu uma queda considerável ano a ano e em todas as regiões analisadas, exceto na China, graças à redução da demanda do varejo e à melhoria das condições de logística. Essa redução do chamado “rollover” (rolagem de transbordo, em português) significa que uma porcentagem maior de contêineres está a bordo dos navios onde devem estar, refletindo um ambiente que está se normalizando lentamente.

O “rollover” pode acontecer por decisão do armador, de seus agentes ou de outras partes envolvidas no processo portuário e geralmente decorre de um “overbooking”, ou seja, da falta de tempo hábil para operacionalizar a chegada do contêiner ao porto, depois de seu deadline ou por outros motivos. “A China viu um ligeiro aumento nas rolagens de transbordo ano a ano, o que aponta para os gargalos aos quais os portos do país estiveram sujeitos, em 2022”, comentou Adam Compain, vice-presidente sênior de Supply Chain Insights da Project44.

Segundo o relatório, os “rollovers” de contêineres de transbordo tiveram alta nos principais portos de transbordo chineses de Nansha (que fazem o atendimento à carga do Delta do Rio das Pérolas), Hong Kong e Ningbo. Eles também podem ser afetados por “blank sailings” (“omissão de portos” ou “omissão de navios”, em português), que se referem ao termo usado por armadores para divulgar que o navio não atracará em determinado porto ou região.

O documento apontou que os serviços transatlânticos devem ter taxas máximas de omissão de 48%; enquanto a rota transpacífico pode chegar a 44%; e a Ásia-Europa a 45%, em julho deste ano e entrando no mês de agosto.

Congestionamentos

Embora os portos da costa oeste dos EUA sejam alguns dos menos eficientes em âmbito global, em termos de tempo de atracação de navios, eles conseguiram “limpar” suas filas de navios, graças aos bloqueios chineses que suprimiram os volumes que fluíam para esses terminais portuários. Também melhoraram suas operações de caminhões a jusante e do frete redirecionado para os portos da costa leste e do Golfo por expedidores, que temiam as greves portuárias depois da renegociação do contrato de trabalho da “International Longshoremen and Warehouse Union” (ILWU).

“Como o reencaminhamento levou a um aumento nas filas de navios nos portos da costa leste e do Golfo, o trabalho de construção em andamento no porto de Savannah causou um aumento enorme de 192% mês a mês, em junho, com 25 navios ancorados perto da costa”, citou Josh Brazil, vice-presidente de Supply Chain Insights da Project44.

Cenário na Europa

O relatório sinalizou que, assim como vem ocorrendo na costa oeste norte-americana, os portos da Alemanha estão em negociações de contratos com o sindicato alemão ver.di, que não avançaram favoravelmente, culminando em greves trabalhistas e uma consequente desaceleração nos portos daquele país europeu, restringindo o movimento das principais exportações, como automóveis, máquinas e produtos químicos.

A situação também não é favorável em outros grandes portos da União Europeia, como da Antuérpia e Roterdã, que estão se preparando para a próxima temporada de férias, mas devem sofrer com escassez de mão de obra. “Os problemas operacionais em terra persistem, pois os pátios estão chegando ao limite e a atividade de caminhões está apertada. Os portos alemães e holandeses também estão atolados com contêineres com destino à Rússia, em suas instalações, que desaceleraram as operações desde que as linhas de navegação pararam de atender o país, após o início da guerra Rússia-Ucrânia”, apontou o documento.

O incremento do fluxo de cargas da China, após a reabertura de Xangai, também piorou o cenário dos portos da UE, embora as instalações de estaleiros estejam batalhando para remover contêineres, devido a gargalos do transporte terrestre, como efeitos das greves ferroviária e trabalhista.

Situação na China

O relatório também apontou que, como alguns lugares da China continuam passando por restrições sanitárias ainda ligadas à pandemia de Covid-19, a suspensão da maioria das restrições em Xangai sugere que a fabricação do país asiático esteja em recuperação. “Embora isso possa aumentar o fluxo de carga de exportação para os principais portos do país, nos próximos meses, a situação nos portos foi predominantemente positiva ao longo de junho”.

“Os portos de Hong Kong e Yantian reduziram pela metade seu congestionamento mês a mês, para 25 navios esperando, mesmo que o porto de Xangai tenha mantido a contagem inalterada em quatro navios. O Porto de Ningbo é a exceção que contrariou a tendência, apresentando um aumento de 9% nos navios ancorados perto do porto”, apontou o relatório Ocean Port Report.

O vice-presidente sênior de Supply Chain Insights da Project44, Adam Compain, informou que, “na Europa, os prazos de entrega das cargas podem piorar em curto prazo, considerando os vários gargalos que sofrem nas operações de logística terrestre, incluindo greves de trabalhadores portuários e da indústria de caminhões, pátios e terminais transbordando e uma redução generalizada na disponibilidade de mão de obra de logística durante a temporada de férias”. Para acessar o documento completo, clique aqui.

Site: Portos e Navios – 26/07/2022.


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