2022-07-07
Corredor Bioceânico deve trazer novos rumos para Brasil e países vizinhos, apontam agentes

Projeto amplo de transporte e logística envolve Brasil, Argentina, Bolívia, Chile e a região do Charco, no Paraguai. Ministro brasileiro anunciou novidades, durante Centro-Oeste Export

A produção do agronegócio brasileiro vem batendo todos os recordes, nos últimos anos, e continua em franca expansão. Por outro lado, também enfrenta vários desafios, especialmente na região Centro-Oeste, a maior produtora de grãos do país. Um deles é tornar os produtos agropecuários mais competitivos no mercado internacional e isso passa pela multimodalidade do transporte e da logística, por vias rodoviárias, ferroviárias, hidroviárias e marítimas, bem como seus respectivos custos que, hoje, são elevados.

Esses gargalos devem ser amenizados ou até mesmo sanados, por meio de projetos mais amplos, como é o caso do Corredor Bioceânico que, embora não seja tão novo, ainda está em fase inicial. É o que afirmou Marcelo Sammarco, presidente do Conselho do Sudeste Export, durante o painel “Alternativas logísticas para o desenvolvimento da região Centro-Oeste”, realizado na última terça-feira (5) em Campo Grande (MS), durante o Centro-Oeste Export – Fórum Regional de Logística e Infraestrutura Portuária.

“A principal conta aritmética é o custo logístico global, que vai tornar este produto (do agronegócio) mais ou menos competitivo no mercado internacional. Isso abrange o transporte rodoviário, desde a produção na planta até a movimentação dessas cargas às estações de transbordo e aos portos, alcançando também o frete marítimo. Depende também das condições dos portos para atender a essas demandas com agilidade e eficiência”, disse Sammarco.

Em relação às rodovias, ele citou números mais recentes da Confederação Nacional de Transportes (CNT) relacionados ao Centro-Oeste, que apontam para aproximadamente 1,6 mil quilômetros de malha avaliada como excelente, contra algo em torno de 3,6 mil quilômetros que ainda carecem de melhorias. “Tudo isso impacta, naturalmente, nos custos. São caminhões que levam mais tempo para chegarem aos seus destinos, sofrem com problemas no caminho com quebras que ocorrem por causa das condições das estradas, além do aumento no tempo de viagem”, comentou Sammarco.

Sammarco destacou que o primeiro desafio é melhorar aquilo que já existe, em termos de malha rodoviária. Para as ferrovias, no entanto, “há iniciativas interessantes que estão sendo encaminhadas e algumas já estão sendo implantadas”.

“Também temos a questão da criação do Corredor Bioceânico, um projeto ainda em fase inicial, que pode servir de rota alternativa aos portos brasileiros localizados no Atlântico, especialmente os portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), que atendem à região do Centro-Oeste, também como alternativa para escoar as cargas através de portos do Pacífico, no Chile”, mencionou.

Em sua análise, “essas rotas visam ganhos em eficiência, redução de custos e de tempo do transporte, tornando os produtos do agro brasileiro mais competitivos do que já são hoje, diante de uma concorrência que é muito alta, no mercado internacional”.

Ações intergovernamentais

Também presente no segundo dia do evento, realizado em Campo Grande (MS), João Carlos Parkinson de Castro, ministro da carreira diplomática do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, atualizou algumas informações sobre o projeto Bioceânico, considerando que um corredor tem por objetivo “oferecer alternativas logísticas mais eficientes, reduzindo tempo e custos, no entanto, isso envolveria unicamente o [setor de] transporte”.

“Nosso propósito é criar o que eu chamo de corredor de desenvolvimento, de forma que atue na transformação da realidade local e isso se consegue por meio de governança. Nós temos, no caso do corredor rodoviário Bioceânico, a despeito de todas as turbulências políticas, feito reuniões regulares com coordenadores nacionais”, comentou o ministro, informando que a próxima reunião está prevista para início de dezembro, em Antofagasta, no Chile.

Segundo Castro, essas coordenações possuem cinco mesas de trabalho, compostas por representantes de setores de infraestrutura, transporte, turismo, integrações aduaneiras e integração produtiva, além de uma rede acadêmica (universitária). “Toda essa governança mantém vivo o projeto desse novo corredor”, resumiu.

O ministro também anunciou a criação, por iniciativa do senador sul-mato-grossense Nelson Trad Filho, de uma frente interparlamentar composta por representantes políticos do Brasil, especialmente do Mato Grosso do Sul, e por deputados e senadores do norte do Chile, norte da Argentina e da região do Chaco, no Paraguai.

“Mais recentemente, também tivemos outra iniciativa inovadora, que foi estabelecer uma relação única, por meio da assinatura de convênios de comércio e turismo de caráter intermunicipal, assinados por 79 municípios do Mato Grosso do Sul”, informou Castro, destacando que o acordo também conta com representantes da Argentina, Chile e do Chaco.

Para ele, essa é uma das oportunidades para criar uma relação inovadora, que dinamiza o Corredor Bioceânico, visando ao comércio de intercâmbio de bens e prestação de serviços, além da atração de investimentos. “Estamos trabalhando em todas as instâncias governamentais e locais”.

Duas semanas atrás, acrescentou o ministro, também foi realizada uma missão empresarial, em território argentino, para conhecer alguns modais que conectam o país vizinho à cidade brasileira de Corumbá (MS), como a linha férrea de Yacuíba, uma cidade da Bolívia que faz fronteira com a Argentina.

Em outro encontro recente, liderado pelo ministro de Obras Públicas, Serviços e Habitação da Bolívia, Edgar Montaño, Castro comentou sobre um diálogo em torno da retomada do corredor ferroviário entre Brasil, Bolívia e Peru, que complementaria o corredor rodoviário Bioceânico.

“Agora, no segundo semestre, deve ser anunciada a construção de um corredor ferroviário no Chaco paraguaio”, que pode beneficiar o Centro-Oeste do Brasil. Em maio passado, durante outro fórum realizado em Campo Grande, o ministro também manteve conversas com gestores de portos fluviais do Chile. “O Porto Concepción está interessado na conexão ferroviária com Ponta-Porã (MS)”.

Conforme Castro, no próximo Fórum Brasil Export, marcado para o mês de outubro, ele espera trazer mais novidades, como a construção de um novo terminal portuário no Uruguai – o Porto Martin Chico –, que também deve favorecer o Centro-Oeste do país.

De acordo com informações do site Rota Bioceânica – Mato Grosso do Sul, o Corredor Bioceânico e a Ferrovia Bioceânica são projetos da “Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana”, que visam interligar os litorais do Oceano Atlântico e o Oceano Pacífico no Cone Sul da América do Sul, estreitando a conexão dos territórios de quatro países: Brasil, Paraguai, Argentina e Chile.

A intenção é reduzir o tempo de deslocamento das cargas, trazer melhorias na logística de transportes e aumentar a competitividade das exportações para a Ásia pelas quatro nações. Com a reestruturação do projeto, os maiores beneficiados por esse corredor serão o Brasil e o Chile. Isso porque a obra deve agilizar as exportações de grãos e carne produzidos nos Estados do Centro-Oeste brasileiro para a Ásia, principalmente China e Japão.

O Corredor Bioceânico começa no município de de Campo Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul, terminando na cidade portuária de Antofagasta no Chile. A primeira etapa deve criar uma rodovia de mais de 2,4 mil quilômetros de extensão. Por linha férrea, o corredor vai conectar o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, desde o Porto de Paranaguá, no Paraná, até o Porto de Antofagasta, no Norte do Chile. De acordo com estudos feitos pelo governo brasileiro sobre a elaboração do projeto, o Corredor Bioceânico pode levar a uma queda significativa dos custos comerciais, em relação às importações e exportações para outros países, como a China, podendo chegar a 25% de redução.

Site: Portos e Navios – 07/07/2022


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