Quase metade do escoamento de grãos sai pelo Centro-Norte
Perspectivas de ampliação da cabotagem e negociações para exportações saindo de Itaqui (MA), pelo Canal do Panamá, podem melhorar competitividade brasileira, especialmente das exportações, aponta boletim logístico da Conab
O escoamento da produção de grãos pelo corredor logístico no Centro-Norte do Brasil corresponde a quase metade de tudo que a agricultura produz no país: 49,8%, com a soja respondendo por 55% e o milho por 51% de todo o volume produzido. Juntas, essas duas commodities chegam a aproximadamente 127 milhões de toneladas, conforme dados do boletim logístico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Localizado acima do paralelo 16, o corredor Centro-Norte abrange os estados do Maranhão, Piauí, Tocantins, Goiás, os municípios do sul do Pará e do nordeste de Mato Grosso, sendo interligado pela região chamada de Matopiba – formada, em parte, por Maranhão, Piauí, Pará, Tocantins, Mato Grosso e Bahia.
No boletim logístico, a Conab destacou que o corredor Centro-Norte tem sido grande potencial para o setor agropecuário, com maior eficiência e, futuramente, com possível menor custo por conta da sua multimodalidade. Há uma expectativa de melhorias da competitividade brasileira com o advento do BR do Mar, ampliação do uso do transporte de cabotagem e das negociações para exportações de grãos, saindo de Itaqui (MA) pelo Canal do Panamá.
De acordo com a Agência de Desenvolvimento Sustentável do Corredor Centro-Norte (Adecon), esse corredor logístico abrange uma extensa região, que inclui um conjunto multimodal de transportes e infraestrutura, interligando o Centro-Oeste através do Norte e Nordeste.
Esse percurso direciona os produtos agrícolas destinados ao mercado externo e demais regiões do país, por meio de rodovias, ferrovias, hidrovias e portos. Seus pontos fortes são os portos do Arco Norte e um complexo hidroviário formado por rios navegáveis e integrados a segmentos rodoviários e à Ferrovia Norte-Sul e à Ferrovia Carajás (EFC).
Ações estratégicas
Para ampliar suas estratégias, aproximando-se da realidade de toda a cadeia produtiva da agricultura da região, foram criados o Conselho Gestor do Corredor Centro-Norte (CGCCN) e o Fórum Permanente de Integração para o Desenvolvimento Sustentável do Corredor Centro-Norte, em 2020, visando mobilizar ações em curto e médio prazos para o fomento da intermodalidade, reduzindo a grande dependência do transporte rodoviário para longos trechos.
Conforme a Adecon, tudo isso deve servir para promover a articulação e a interveniência em gargalos, com ações de médio prazo; os debates em torno de melhorias da utilização dos recursos para infraestrutura; a possibilidade de captação entre players e investidores; e os estímulos para o custeio da agricultura, com foco em um desenvolvimento sustentável.
“A Adecon atua no Corredor Centro-Norte há mais de 15 anos. Eu assumi a presidência no início de 2020, antes da pandemia, quando criamos o CGCCN e o Fórum Permanente para começarmos um planejamento estratégico. A ideia de criação do Conselho veio da necessidade de reunir a comunidade envolvida – sociedade civil organizada, academia, usuários e prestadores de serviços de transportes e governos – como forma de identificarmos os gargalos na logística dessas áreas”, informou Ronald Klein, presidente da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Corredor Centro-Norte, à Portos e Navios.
Segundo Klein, outra ação mais recente foi o Road Show – Integração e Desenvolvimento do Corredor Centro-Norte. “Percorremos municípios ligados ao agronegócio, nos Estados servidos pelo corredor logístico, e que estão na hinterlândia do Complexo Portuário do Itaqui, no Maranhão. O intuito foi nos aproximarmos dos produtores, demonstrando as facilidades dessa logística de transporte de mercadorias pelo Arco Norte”.
A hinterlândia do corredor Centro-Norte abrange os estados do Maranhão, Piauí, Tocantins, Goiás, municípios do sul do Pará e do nordeste do Mato Grosso.
“Para 2022 e 2023, estamos voltando às origens com o fomento à navegação hidroviária através do Circuito Hidroviáveis pelo Brasil. Dessa forma, a Adecon passará a atuar em outros importantes corredores logísticos no país”, disse o executivo.
Importância das intermodalidades
Exatamente por ser uma região estratégica para o agronegócio brasileiro, Klein apontou a urgência de buscar por melhorias para o Centro-Norte. “Temos uma visão sobre a importância das intermodalidades de transporte e logística nesse corredor. Desde setembro tem ocorrido, por parte das esferas envolvidas (como empresas e governos), um estímulo aos investimentos nas ferrovias, de um modo geral, e nas shortlines através do regime de autorização”, destacou o presidente da Adecon, explicando que shortlines são ferrovias menores e/ou ramais ferroviários que não seriam, até então, economicamente viáveis no modelo tradicional licitado.
Nesse corredor logístico, citou Klein, existem áreas da Valec que serão licitadas para investimentos em pátios multimodais, que são fundamentais para o transbordo de cargas da rodovia para a ferrovia.
Principais eixos
O boletim logístico da Conab destacou que o Centro-Norte tem atualmente, como principal eixo de movimentação de cargas, a Ferrovia Norte Sul (FNS), que liga o município de Estrela D’Oeste (SP) a Açailândia (MA), pertencente à Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. (Valec). O trecho é interligado com a Estrada de Ferro do Carajás, sob a administração da VLI, saindo de Carajás (PA), passando por Açailândia até chegar ao complexo portuário do Maranhão, que compreende os terminais privados da Vale e da Alumar, além do Porto de Itaqui (MA).
A Conab apontou que a FNS é uma das principais ferrovias nacionais, não somente pelos investimentos que estão sendo feitos, mas por sua extensão e ligação com outras ferrovias, que fazem parte dos projetos de investimentos logísticos do Brasil, tais como: a Ferrovia de Integração Centro Oeste (Fico), que ligará Porto de Açu (RJ) ao Boqueirão da Esperança (AC); a Ferrovia do Pantanal que vai de Estrela D’Oeste (SP) ao Porto Murtinho (MS); a Ferrovia de Integração Oeste Leste (FIOL), de Figueirópolis (TO) a Ilhéus (BA)); além do trecho de Açailândia ao município de Barcarena (PA), que fará parte da FNS e da ligação com a Malha Paulista até o Porto de Santos.
O Corredor Centro-Norte, além das ferrovias citadas, dispõe de duas potenciais hidrovias, como a do Araguaia e do Tocantins, bem como as rodovias BR-222, BR-135, BR-153, BR-010 e BR-226. Para ter acesso ao boletim logístico da Conab,
Site: Portos e Navios – 04/07/2022
